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“O Primeiro Exercício de Escuta é a Escuta de Si Mesmo”

Publicado em: 29/10/2010 |

O Laboratório Dramático do Ator, projeto de pesquisa com mais de quatro décadas, foi tema do bate-papo online com o ator e diretor Antônio Luiz Dias Januzelli, realizado na quinta-feira (28), no site da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.
 

Antonio Januzelli, mais conhecido como Janô, começou a atuar em Campinas, cursou Direito e, em seguida, entrou na Escola de Arte Dramática (EAD/USP). Em seu primeiro ano de estudos, começou a dar aulas de teatro na periferia e também a dirigir um grupo de adolescentes em um colégio de São Paulo. Em 1977, foi professor na EAD e no Departamento de Artes Cênicas, ambos da USP. “Quando entrei na universidade, percebi que meu tempo como ator e professor de ginásio já era uma pesquisa centrada na figura humana e na atuação”, afirma.
 

Em uma das primeiras questões durante a conversa virtual, Janô falou sobre as ferramentas que, durante uma pesquisa, podem instaurar uma atmosfera propícia para a escuta, a troca e a criação. “Eu tive o privilégio de assistir a última palestra do Grotowski  no Brasil. Ele disse que uma pesquisa sobre teatro demora de 150 a 200 anos para ser realizada. A escuta, a troca e a criação são exercícios que devem durar a vida inteira”, explica.
 

Para Janô, o exercício da troca é a generosidade, a doação que o sujeito faz ao outro.  A criação é um brincar, é um exercício da transfiguração e da transmutação. “O ator é um homem. O seu ofício é brincar de ser outros. O trabalho que desenvolvemos é em cima do homem. Quais as dificuldades que esse sujeito tem? É em cima dessas dificuldades que a gente trabalha. Desenvolvemos uma base nesse sentido, da auto-percepção, a percepção do outro, a escuta de mim para comigo e de mim para com o outro, a concentração, a ativação energética, a interação.  Depois brincamos com textos”, conclui.
 

Ao refletir sobre teatro contemporâneo, Janô explica que nas últimas décadas existem experiências que extrapolam a visão do teatro do ator.  “Tenho absoluta certeza que a única coisa que resta hoje, com toda essa parafernália da mídia e da comunicação, é o contato humano e isso só é possível com esse ator, físico, vivo na minha frente”, afirma.
 

Ainda sobre o tema da contemporaneidade, Janô explica que o desejo dos jovens atores de se formar rapidamente e consumir técnicas, ao invés de experiênciá-las, é uma questão do mercado e não da arte. “Isso é influência do mercado e não descoberta de uma necessidade interior. Há um espaço que leva o sujeito a estar fora de si e estar vendido aos produtos de consumo. Por isso, existe a necessidade de um exercício de conscientização desse adolescente, desse jovem. Eu trabalho nesse sentido.”