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O Mal e o Mito

Publicado em: 27/04/2012 |

A lenda de Fausto ressurge com “Fogo-Fátuo”, novo espetáculo da Companhia Teatral Arnesto nos Convidou, que estreou no último sábado (21), no Teatro Sesc Santana. A releitura da obra tem texto do dramaturgo e diretor Samir Yazbek, que interpreta Fausto ao lado do ator e diretor Hélio Cícero, que vive Mefisto.

 

A narrativa alemã fala sobre um médico e alquimista chamado Dr. Johannes Georg Faust, supostamente nascido entre 1466 e 1480. Desiludido com o nível de conhecimento do seu tempo, ele faz um pacto com o demônio Mefisto. Em troca de sua alma, Fausto recebe energia criativa para obter todas as respostas que buscava.

 

Citado por muitos escritores ao longo do tempo, o mito foi compilado na obra anônima “Historia Von D. Johann Fausten”, apresentada numa feira de Frankfurt, em 1517. O texto se tornou mundialmente famoso quando reescrito pelo escritor alemão Goethe, que a publicou em 1806 e 1832.

 

Na peça, Fausto é um escritor angustiado que busca novas criações depois que o público se desinteressa pelos seus trabalhos. Do outro lado, a criatura do mal está em crise ao descobrir que foi esquecida. Em um tempo em que todos praticam o mal, Mefisto não encontra almas para influenciar e perde o seu espaço no mundo. É a “banalidade do mal”, expressão criada pela filósofa Hannah Arendt, no livro “Eichmann em Jerusalém”, que também serviu de base para as criações.

 

O figurino é assinado pela cenógrafa, figurinista e formadora do curso de Cenografia e Figurino da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, Telumi Hellen. Ela conta que durante a concepção do traje de Fausto, foram discutidos o ego do artista e suas dúvidas, representadas em uma vestimenta contemporânea. “Nós consideramos o escritor Fausto como o mais conflitante entre os dois. Por estar indeciso e com a mente obscurecida pela dúvida, pensamos em vesti-lo na cor preta”, explica.

 

Para o figurino do demônio, Telumi procurou desmistificar o mal em suas várias camadas. “Vestimos Mefisto em roupas claras e transparentes, porque ainda que ele seja a personificação do mal, ele é o que é. As roupas também estão do avesso para intensificar essa identidade clara, sem segredos”, conclui.

 

A concepção do cenário ficou por conta da arquiteta, cenógrafa e artista residente do curso de Técnicas de Palco da SP Escola de Teatro, Laura Carone. Sua proposta inicial foi neutralizar o piso do palco com cor preta e utilizar elementos que misturassem o mito e o humano. “Para Mefisto, criamos um ambiente quase ritualístico com um círculo de giz e uma vela branca. Representamos as dúvidas e a falta de referência do escritor com objetos de outros espetáculos da companhia. Em uma das cenas, também existe um espelho que reflete o mito e o humano fundindo-os em uma imagem”.

 

 

Serviço
“Fogo-Fátuo”
Quando: Sextas e sábados, às 21h; domingos, às 18h
Onde: Sesc Santana
Av. Luiz Dumont Villares, 579 – Santana
Ingressos: R$ 20
Tel.: (11) 2971-8100

 

 

Texto: Leandro Nunes