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Nelson Peres por Mario Bortolotto

Publicado em: 28/03/2012 |

Nelson Peres: Uma Interpretação Construída em Slow Motion

 

 

Quando conheci o Nelsinho (isso foi em 1986, no Festival de Presidente Prudente), ele já não tinha cabelo. Ele jura que tinha. É mentira. Lembro que vi o Nelsinho em cena no espetáculo “Paravacina”, do Grupo Necas de Pitibiribas, contracenando com o Marco Ricca, e disse pra um amigo que estava assistindo do meu lado: “Esse ator careca é bom, hein?”. Algum tempo depois, fui a São Paulo e tive a oportunidade de assistir a outra peça do grupo, o “Methodos”, e voltei a ficar muito impressionado com aquele “ator careca”. 

 

Ele era brilhante, mas era de uma sutileza e uma estranheza que não era comum. Quando me mudei pra São Paulo, em 1996, fiquei curioso pra saber por onde andava aquele ator. Parece que ele estava fazendo alguns monólogos e meio desiludido de trabalhar em grupo. Finalmente, em 2002, eu consegui convidá-lo pra trabalhar comigo na “II Mostra Cemitério de Automóveis”. E ele, que estava acostumado com longos processos de montagem, teve que se virar com nossas montagens de três dias e dois ensaios e meio. E ele fez uma porrada de peças e se divertiu pra caralho. E nós nos divertimos também. E ficamos muito amigos. 

 

Eu ainda tive o imenso privilégio de poder dirigi-lo ou de dividir a cena com ele em vários espetáculos. Na peça “Aos Ossos que Tanto Doem no Inverno”, éramos só nós em cena, com o texto do Sergio Mello e a direção de Soledad Yunge. Foi muito foda. Contracenar com o Nelsinho é aquele tipo de bênção que, quando você recebe, tem mais é que rezar e agradecer. O homem é um monstro. Mas não parece, sabe como é. Tudo no Nelsinho é aparentemente pequeno, simples, construído com vagar e cautela, sem grandes arroubos. 

 

Talvez, seja isso que o torne tão particular e irrepreensível. Talvez, seja dessa matéria que se faça os grandes atores. Ou não. Vou deixar pra lá esse negócio de tentar decifrar o ator. Afinal, sempre poderei contar com o grande amigo que ele é. Durante todo esse tempo que eu o conheço, toda vez que o vejo em cena não consigo parar de pensar e repetir pra mim mesmo: “Porra, como esse ator careca é bom!”

 

 

Veja o verbete de Mario Bortolotto e Nelson Peres na Teatropédia.

 

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