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Não fossem os sonhos…

Publicado em: 25/07/2014 |

* por Ivam Cabral, especial para o portal da SP Escola de Teatro

 

Sonho. Do latim, sommium. Devaneio, fantasia, ilusão, utopia. De quantas formas é possível descrever uma ideia que se apossa de nossos pensamentos e nos faz ir muito mais longe do que em nosso estado mais racional, objetivo, “pé no chão”?

 

De muitas formas, tenho certeza. Também estou certo de que qualquer uma delas serviria para descrever o que o teatro sempre foi para mim. 

 

Posso dizer que meus sonhos me acompanham desde a pequena cidade de Ribeirão Claro, no Paraná, que hoje tem pouco mais de 10 mil habitantes. Lá, onde nasci, comecei a formular minha convicções e a vislumbrar um futuro na arte. De lá parti, ainda jovem, para persegui-lo.

 

Essas eram minhas obsessões: fazer teatro, viver de teatro e no teatro, derramar teatro sobre o mundo. Como Ícaro, não suportei as paredes que se erguiam à minha frente. Não fui capaz de fechar os olhos e simplesmente rejeitar o desconhecido, escapar do risco, aceitar o caminho mais simples. Fazia questão de ser ouvido, de ver reconhecida minha expressão. Não saberia viver como se acreditava que eu deveria viver e o peso de uma existência sem identidade me abateria violentamente.

 

Não há duvidas: essa incapacidade poderia facilmente ter sido a minha ruína; o calor que derreteria minhas asas e daria um final definitivo às minhas inquietações. Mas não foi.

 

Tantas dificuldades se construíram em minha trajetória. Fiz-me maior que todas elas e as superei. Vários nãos eu conheci nessa viagem. Transformei-os todos em combustível para alcançar os sins de que tanto precisava para me fortalecer.

 

Aquele sonho impossível, então, passou a ganhar contornos cada vez mais nítidos. A hesitação já não encontrava mais espaço em mim: eu trilhava o caminho que me preenchia. E cada vez mais portas se abriam. De cada uma delas tentei extrair lições – e não foram poucas as decepções, os medos, os fracassos.

 

Não que tenha sido tudo perfeito; longe disso. E nem hoje é assim. Mas eu estou vivo, no sentido mais profundo da palavra. E me orgulho por isso.

 

Do que se precisa para viver, enfim? De uma mala transbordando sonhos. O resto se adquire por aí.

 

Eu juro: tinha tudo para dar errado na vida – e teria dado – não fossem os sonhos que nasceram primeiro…