O autor e diretor de teatro Alcione Araújo (1945-2012) (Foto: Divulgação)
O teatro sofre mais uma grande perda: na madrugada da última quinta-feira (15), morreu o diretor e autor teatral Alcione Araújo. Ele tinha 67 anos e sofreu uma parada cardíaca. Segundo seus familiares, ele estava hospedado em um hotel da Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
De acordo com Dulce Lobo, mulher de Alcione, seu marido não apresentava problemas de saúde. Ele morava no Rio de Janeiro, mas desde segunda-feira (12) estava em Minas Gerais, onde visitou a cidade histórica de Ouro Preto e o Instituto Inhotim, em Brumadinho.
Seu corpo foi levado de Minas para o Rio, onde foi velado e cremado, na sexta-feira (16), no Memorial do Carmo, no Caju. O autor deixou uma filha e dois netos.
Formado em engenharia e com mestrado em filosofia, Alcione Araújo ingressou ainda jovem em um curso de formação de atores. Em sua trajetória, o mineiro assinou textos de peças como “Há Vagas Para Moças de Fino Trato”, seu primeiro trabalho encenado, em 1974, sob a direção de Eid Ribeiro, em Minas Gerais. Dois anos depois, a obra foi montada no Rio de Janeiro, dirigida por Amir Haddad, trazendo Glória Menezes, Yoná Magalhães e Renata Sorrah no elenco. A produção rendeu-lhe projeção nacional. Mas seu maior sucesso foi “Doce Deleite”, estrelado por Marília Pêra e Marco Nanini, em 1981.
Entre 2003 e 2007, ele se entregou a um projeto ambicioso: o de costurar a trajetória de personagens diversos que viveram no Brasil nos séculos 19 e 20, e, por isso mesmo, se confundiram com importantes momentos históricos. O resultado foi o romance “Pássaros de Voo Curto”, lançado pela Editora Record.
Atualmente, Alcione Araújo era cronista do jornal “Estado de Minas”, no qual escrevia às segundas-feiras.
Em seu blog, Terras de Cabral, Ivam Cabral, diretor executivo da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, rende um tributo ao diretor e autor, reproduzindo um e-mail enviado pelo mineiro, no dia 14 de novembro, véspera de sua morte, desejando-lhe sucesso na temporada do novo espetáculo do grupo Os Satyros, “Inferno na Paisagem Belga”:
“ALCIONE ARAÚJO, MEU QUERIDO…
novembro 21, 2012
Mensagem original
De: Alcione Araujo < [email protected] >
Para: ’Ivam Cabral’ < [email protected] >
Assunto: RES: Inferno na Paisagem Belga
Enviada: 14/11/2012 18:36
Ivam, meu querido,
desejo-lhe muito sucesso. A ousadia que entrevi na peça – que não conheço – me leva a torcer pelo seu êxito. Embora suas obras sejam pouco conhecidas no Brasil, Rimbaud e Verlaine são dois momentos iluminados na história da poesia e até mesmo na negação da poesia. Essas pessoas, sim, fazer (SIC) a diferença na produção do pensamento estético e na construção de novas sensibilidades. Quando for a Sampa, irei sem falta assistir ao seu espetáculo. Grande abraço e, mais uma vez, sucesso!
Alcione.”
Texto: Majô Levenstein