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Miss SP Escola de Teatro

Publicado em: 14/05/2012 |

A pequena cidade de Fernandópolis, região noroeste do Estado de São Paulo, tem aproximadamente 65 mil habitantes e 550 km². Dentre a pequena população, uma grande família precisa ser destacada: a de Kimberly Luciana Dias, uma das recepcionistas da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. Caçula de cinco irmãos, sendo três só por parte de pai, Kimberly passou toda sua infância no município onde nasceu que, inclusive, fica perto de Minas Gerais, o que faz com que a recepcionista se considere, além de paulista, “quase mineira”, como se intitula.

A SP Escola de Teatro reserva as vagas de trabalho na recepção para mulheres transexuais, na intenção de dar oportunidades a pessoas de talento, que muitas vezes são culpadas e julgadas por simplesmente exporem suas opções sexuais. Nesse projeto, Kimberly viu a chance de trabalhar com todos seus direitos garantidos e, também, de aumentar a visibilidade do movimento transexual: “Ser recepcionista é estar diariamente lidando com pessoas, mostrando que não somos marginalizadas, mostrando que podemos trabalhar em vários cargos, sim! Para muitos, ser recepcionista pode não ser grande coisa, mas para mim é uma vitória muito grande”, observa. Kimberly não começou a trabalhar na primeira vez em que foi selecionada pela Instituição. Na primeira oportunidade, não conseguiu a vaga, mas, segundo ela, lutaria até que desse certo. E deu.

Quando indagada sobre sua infância, a recepcionista ri: “Como criança do interior, aproveitei minha infância ao máximo. Brinquei muito e fiz muita ‘arte’ também, tudo isso fez parte da construção da mulher que sou hoje”, conta. Sobre sua sexualidade, admite que não foi problema para a família e lembra: “Desde que eu me conheço por gente, minha mente e alma são femininos. Minha mãe era mais conservadora do que meu pai. Ela me repreendia se fazia coisas de menina, mas do meu pai eu nunca ouvi um ‘não’ à minha sexualidade”.

A Miss

Vaidosa, Kimberly não esconde o orgulho de ter passeado com classe por esse “mundo das Misses”, como ela mesma chama. Participando de alguns concursos de beleza na categoria “Travestis e Transexuais”, assume que sempre teve dentro de si a “Pequena Miss Sunshine”. Assim, foi Miss São Paulo, esteve entre as cinco primeiras no concurso para Miss Brasil e também participou de alguns eventos internacionais, entre eles o Miss World, edição de 2005, onde alcançou o vice-lugar (1st Runner-Up). “Aquele período foi como uma escola na minha vida. O lado bom é que conheci vários lugares, pessoas, festas e muitas portas foram abertas para mim. O ruim foi ter de sair do Brasil em busca de oportunidades que aqui não foram oferecidas só pelo fato de ser uma pessoa que assume a sua orientação sexual”, revela.

Metas, Sonhos e Felicidade

Uma coisa da qual se orgulha e agradece é o fato de que sua vida, mesmo nos momentos ruins, sempre foi “uma comédia”, como ela mesma descreve. Ela diz que em tudo que fez e viveu houve um toque de humor. Focada no trabalho, Kimberly confecciona bijouterias e trajes para espetáculos e desfiles no seu tempo livre, mas faz questão de deixar claro: “Minha cabeça está aqui na Escola. Mal tenho tido tempo para as outras coisas, mas gosto disso”.

Kimberly se mostra uma mulher de sonhos realizados e em paz com seus objetivos. Constrói, no dia a dia, suas metas e vai cumprindo-as sem estresse. Do futuro, ela diz ter medo, pois é incerto, mas assume a felicidade que está vivendo: “Nunca se é 100% feliz, mas hoje em dia estou completa, estou feliz. Um dos motivos é trabalhar na SP Escola de Teatro, que tem me ajudado a ter uma felicidade digna!”.
 

 

Texto: Gabriel Gilio