Certa vez, à beira de concluir minha formação em Licencitura em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo, fui pedir à minha orientadora uma carta de indicação para que pudesse anexar ao meu currículo e, então, distribuí-lo por escolas e outras instituições.
Dentre as linhas objetivas e generosas, uma expressão até hoje não me sai da cabeça: “aguçado espírito crítico”.
A orientadora era a professora doutora Maria Lúcia Pupo, que considero minha grande mestre e inspiradora, como profissional, artista e pedagoga! A expressão que ela usou na carta é, para mim, a imagem das inquietações com as quais ela me presenteou ao longo dos quatro anos em que estive na Universidade.
Com uma capacidade de síntese invejável e com uma clareza cristalina de pensamento, Malú, como a conhecemos, não apenas partilha seu conhecimento com seus alunos, mas alimenta o espírito crítico de cada um deles, num trabalho extremamente cuidadoso e rigoroso. Ao trilhar uma trajetória de encontro com o teatro, aguça a percepção e o olhar de cada um, revelando as facetas pedagógicas desse fazer artístico.
Interessada em suspender as dicotomias entre Arte e Educação, Malú não apenas é apaixonada pelo encontro entre os processos de criação e aprendizagem, como também apaixona aqueles que a encontram.
Seu vigor e dedicação à pesquisa são as qualidades que a tornam uma das responsáveis pela construção da área de Pedagogia do Teatro no Brasil, fomentando o estudo e a investigação acerca do artista-pesquisador-pedagogo: aquele que conduz e “reflete sobre as finalidades da aprendizagem e sobre as modalidades de conhecimento envolvidas nos processos de trabalho sobre as artes da cena”.
Dentre seus trabalhos, é possível encontrarmos importantes reflexões que analisam a similaridade entre o ideário do trabalho colaborativo e os princípios de pedagogia da cena; a articulação de procedimentos de trabalho que dêem conta de um processo simultâneo de criação e aprendizagem artística; e, principalmente, o essencial questionamento acerca de como nos colocarmos diante da inserção do artista no mundo, chamando-nos a atenção para o caráter público e dialógico de nosso fazer.
Talvez seja por isso que esta expressão (Aguçado espírito crítico) me acompanhe e atormente diariamente, pois, sem dúvida, o encontro com essa artista-pesquisadora-pedagoga despertou em mim um senso de necessidade e responsabilidade para com um fazer artístico engajado na construção de um permanente diálogo com sua realidade.
Veja, na Teatropédia, o verbete sobre Filipe Brancalião.