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Mais Cultura com o Pessoal da SP Escola de Teatro

Publicado em: 08/07/2011 |

A Revista Mais Cultura é um projeto da Editor Criação e consiste em uma publicação online que investiga o panorama cultural em suas diversas manifestações e seu conteúdo é produzido com informações, análises, pesquisas e entrevistas voltadas para o estímulo ao teatro, literatura, cinema, dança, música, artes plásticas e pensamento filosófico. 

 

A publicação conta com a colaboração de Dias Filho e Luan Maitan, e poemas de Marcus G. Rosa, todos aprendizes de Dramaturgia da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. 

 

Ainda na edição atual, que pode ser acessada aqui, também é possível conferir uma entrevista com Anderson Maurício, diretor da Trupe Sinhá Zózima e aprendiz do curso de Direção da Escola. Rudinei Borges, editor do site que hospeda a revista, também integrou a primeira turma do curso de Direção. 

 

Rodolfo García Vázquez, coordenador do curso de Direção da SP Escola de Teatro e um dos artistas mais atuantes no cenário teatral e cultural brasileiro, também concedeu uma entrevista sobre sua trajetória, anseios e medos, na Revista Mais Cultura. 

 

Co-Fundador da Cia. Os Satyros, ao lado de Ivam Cabral, diretor executivo da SP Escola de Teatro, Vázquez revela que acredita no poder transformador das artes cênicas e em um teatro provocador e deslocador. Confira aqui os principais momentos da entrevista com o diretor e leia, abaixo, a estreia da coluna do aprendiz Dias Filho, com um texto sobre o ator compositor, baseado em uma citação do filósofo Gilles Deleuze.

 

Deleuze e o Ator Compositor | O Alimento das Sanguessugas

Por Dias Filho, ator e dramaturgo

 

“Pegaríamos as coisas onde elas crescem, pelo meio” (Gilles Deleuze)

 

Não pensei que pudesse discordar de algo dito pelo filósofo Gilles Deleuze (1925-1995). Mas aprendi, há pouco, que certas plantas, em meia altura, ganham, já na fase “adolescente”, a rigidez e a resistência prometida pela espécie na fase adulta.

 

O “ator compositor”, ora, é um bom (?) título para um livro com assertivas essenciais para todos dessa profissão. Mas só um título. No entanto, tornou-se o novo discurso para atenuar o cancro de bons engenheiros, bons escritores, bons médicos, bons jornalistas, bons iluminadores, sonoplastas, cenógrafos e, todos perdidos – e fazendo-se perder a Arte, porque não suportam os obstáculos naturais a serem solucionados em suas profissões – sendo estes péssimos atores/atrizes quando se lançam a sê-los.

 

É uma hipérbole unir dois substantivos que não prescindem de poder específico de criação. Ator é ator e compositor é compositor, ora. Ou devo amortecer enganos engrossando os discursos da impotência e da fragilidade com que pessoas adentram sob vislumbres na Arte para começar ou alongar alguma sensação terapêutica de alívio? Creio que não.

 

Sabemos, no entanto, onde isso começa. Na fala fácil de professores pseudo-humanistas – e por que não dizer pseudo-artistas. Seja em oficinas gratuitas ou em uma maioria aterradora de escolas de formação técnica interessadas em cifras ou em ocos discursos humanitários que dizem que o indivíduo deve descobrir por si só os seus limites e, assim, isentam-se de suas responsabilidades, mesmo – e principalmente – humanas, expondo aqueles, que são sinceros em suas buscas através do Teatro. Esses são derrubados pela manutenção dos cochichos: “como ele/ela é ruim no palco, meu Deus!”. Ou mantendo as “relações cordiais” para a mazela daquilo que é relevante à Arte e ao Humano: a totalidade vívida de caráter (seja ele qual for).

 

São pessoas verdadeiras em seus arrebatamentos, mas enganadas com a ideia de que “o trabalho constante é que faz um grande ator”. Penso que um grande ator é que, Naturalmente, faz sobre si e por si em constante trabalho. Ou será que se eu treinasse futebol doze horas por dia seria convocado para uma equipe campeã no lugar de algum “mago da bola” em grande fase que treina três horas diárias? Inclusive conheço excelentes pedreiros que acordam às 3h45min da manhã, voltam às 22h para casa – e estavam trabalhando! – e não apuram seu olhar em paisagismos, como têm apurado alguns arquitetos.

 

“Há exceções“, alguns dirão.

 

Pois bem, é justamente da exceção, um número ínfimo de pessoas, cuja Natureza da profissão já é orgânica e que só o conhecimento refina, que aprimora e se conscientiza de uma singularidade que lhes tornam ímpares e assumidamente inerentes à ela e não à outra, é que me refiro.

 

A hipocrisia dos que defendem “os bons atores” ou “atores compositores” estimula os enganados, mantendo-os como um rebanho, para depois, ficarem aliviados e criticarem cada um daqueles que têm Fé na pseudo-arte de atuar.

 

Amo a Física. Tenho alguma facilidade com cálculos. Emociono-me com os conceitos da Física, masisso não me qualifica a ser Físico. No entanto, graças à sinceridade daqueles com quem convivi, por minha própria coragem em admitir, posso afirmar que atuação e dramaturgia são orgânicas em mim.

 

Prefiro o impulso para “rachar as coisas, rachar as palavras” que Deleuze soma à ideia de “rachar” os enganos, as vaidades – antes que todos (e qualquer pessoa que acredita que basta não ter vergonha de falar em público) se considerem atores. Mas não são.

 

Referências bibliográficas

DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo. Editora 34, 2010.

Fonte: http://www.maisrevistacultura.com.br/artigos/ver/119/deleuze-e-o-ator-compositor