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J. C. Serroni por Raul Teixeira

Publicado em: 30/03/2012 |

No mês em que celebramos o Dia do Mundial Teatro e do Circo (27/3), a SP Escola de Teatro comemora a data homenageando nomes importantes que dedicaram boa parte de suas vidas para a criação, o estudo e o ensino das artes do palco.  

 

Meu prazer, quando chego à SP Escola de Teatro todos os dias, é privar do convívio com amigos e artistas, quando mantemos uma troca incansável de temas sobre teatro, artes plásticas, teorias e práticas sobre a criação cênica, enfim, um caldeirão de ideias que, acredito, fazem parte de um estudo atual sobre o teatro brasileiro. 

 

Dentro dessa equipe, destaca-se um grande companheiro e um dos mais importantes e respeitados cenógrafos e figurinistas do teatro internacional. Falar desse profissional é relembrar momentos que foram de muita importância em minha trajetória como sonoplasta. Acho que não teria realizado metade do que fiz se não fosse pelo seu olhar apurado e atitude generosa.

 

Conheci nosso personagem no Centro de Pesquisa Teatral (CPT/Sesc), em 1987, quando lá comecei como ator e ele como cenógrafo e figurinista, para a montagem da peça “Xica da Silva”, sob a direção de nosso mestre Antunes Filho. Quis o destino que, no Grupo Macunaíma, eu me encontrasse como profissional de sonoplastia e tivesse a felicidade do contato direto e intenso de criação junto à sua equipe. Apesar de já conhecer seu trabalho, desenvolvido para diversos espetáculos, recordo-me especialmente da montagem da peça “Joana D’Arc”, no extinto Teatro Taib, quando pude testemunhar o reconhecimento público de seu talento e inteligência invulgar pela comunidade artística. 

 

O empreendimento lhe rendeu um acidente gravíssimo, ao instalar uma escada imensa suspensa no urdimento, e que atravessava o palco. Os jornais da época noticiaram o fato e simplesmente TODA a classe teatral se manifestou e se mobilizou, torcendo por sua rápida recuperação. 

 

Durante nossa convivência no CPT, pude compartilhar, diariamente, por 16 anos, do poder criativo insano, obstinado, caprichoso, detalhista, incansável, generoso, apurado e certeiro de seus cenários e figurinos, das maquetes e provas de roupas, da rapidez e das soluções originais, de seu estilo único de liderança, do desprendimento e da nobreza para ensinar, com habilidade, as diversas maneiras de se construir um cenário, de modelar um tecido, de manipular matérias brutas que se transformavam em adereços encantatórios, mágicos, vibrantes, ilusórios.

 

Esse mago, que constrói prédios arquitetônicos teatrais, que circula, reforma e preenche espaços, que estuda diariamente a relação palco X plateia, que inventa, que busca inovar, que lança mão de elementos que interfiram na atuação, que prontamente se adapta e se transforma, reconduzindo sua criação em favor do espetáculo, a partir de uma ideia audaciosa, de uma observação ou comentário de um diretor ou ator,  sabe como ninguém reproduzir com maestria, no ofício que escolheu, imagens que causam grande impacto nos espectadores e nos próprios artistas.

 

Ao mesmo tempo múltiplo e único, ímpar e plural. Pois nosso colega também envereda, com maestria, por outras artes, entre elas a gastronomia, vejam só. Que o digam os privilegiados que já comprovaram e se deliciaram com a habilidade desse gourmet na elaboração e preparo de saborosas massas e terrines. Verdadeiros manjares dos deuses, sem exagero. 

 

Ele fez e faz história, e contará muitas outras. A ele, agradecemos também a continuidade que dá aos ensinamentos que adquiriu de tantos outros mestres, entre os quais: Santa Rosa, Flávio Império, Ciro Del Nero, Arquimedes, Espanhol, Puppe e Gianni Ratto.

 

Sua biografia já consta em vários artigos e blogs da internet, em que se sobressai seu grande feito, que lhe exigiu muita dedicação: a coragem do investimento pessoal, o dispor de tudo que coletou ao longo da carreira para a construção do Espaço Cenográfico, em São Paulo, que reúne seu ateliê e diversas atividades relacionadas à cenografia e arquitetura cênica abertas ao público, tais como biblioteca especializada, sala de exposições, publicação de um boletim informativo mensal sobre o assunto e um disputado curso  anual. Portanto, sugiro aos leitores uma visita ao local e também ao site (www.espacocenografico.com.br), para compreenderem mais e melhor o que este nosso colega realizou para manter viva a memória e a história da cenografia no Brasil.

 

Agora, o futuro. Sob sua curadoria, que abrange toda a América Latina, está prevista para maio próximo a festa de lançamento, em Nova York (EUA), da primeira publicação sobre a história da cenografia mundial. 

 

É óbvio, e não podia ser diferente. Estamos falando de José Carlos Serroni, ou J. C. Serroni, ou, simplesmente, Serroni.  A ele nossa reverência, nosso agradecimento e nossa admiração. Um forte abraço, amigo!

 

 

Veja os verbetes de J.C. Serroni e Raul Teixeira na Teatropédia.

 

Para ver os depoimentos dos outros coordenadores da Escola, que compõem a semana em homenagem ao Dia Mundial do Teatro, clique aqui.