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Ivam Cabral fala sobre Tatiana Belinky

Publicado em: 16/06/2013 |

Tatiana Belinky, em foto tirada em 1993 (Foto: Protásio Nene/Estadão Conteúdo/Agência Estado)


por Ivam Cabral*, especial para o portal da SP Escola de Teatro

Meu primeiro prêmio no teatro foi o APCA de ator infantil. E foi graças a Tatiana Belinky, uma das mais importantes escritoras da literatura infanto-juvenil do País, que morreu na tarde do último sábado (15), aos 94 anos, após 11 dias de internação no Hospital Alvorada, em São Paulo. Tatiana escreveu mais de 270 livros, entre eles “Coral dos bichos” e “O grande rabanete”. Nossa história foi assim:

‘Então, numa bela tarde, a Tatiana, uma pioneira do teatro infantil, que naquela época fazia crítica e era muito respeitada, ligou pro teatro dizendo que iria assistir ao espetáculo naquele dia, mas que estava atrasada. Ela ligou em cima da hora e pediu pra que a gente atrasasse um pouco a sessão, que ela estava chegando. Meu Deus, foi uma loucura. O elenco já estava tirando a maquiagem, porque não tínhamos tido nenhum público e, pouco antes de a Tatiana ligar, nós havíamos resolvido cancelar a sessão. Sabe aquele dia em que não aparece ninguém, em que o telefone do teatro não toca, em que o elenco fica num desânimo geral? Foi assim.

Lembro que a gente chegava muito tempo antes do espetáculo no teatro, uma, duas horas. Nós éramos supersérios, fazíamos exercícios de aquecimento, porque a peça era muito física. Pois, então, naquele dia, a gente já tinha cancelado a sessão, e daí ficamos sabendo que a Tatiana Belinky estava chegando. Meu Deus, que sufoco! Nos sentimos desesperados mesmo, porque, imagina, era uma possibilidade, uma crítica, quem sabe, e todo mundo voltou a se arrumar, refazer a maquiagem. Então, saímos para a rua para pegar espectadores. Daí, foi uma maravilha.

Tem um detalhe especial nessa história. O que aconteceu? Os meninos da rua já tinham assistido milhares de vezes à peça e não queriam mais ver. Diziam: ‘Não, não vou não, não vou mesmo”’. Nós, desesperados, pensando ‘O que a gente faz?’. E olhem que absurdo: o Neri Gomide, dono do teatro, ofereceu um chocolate para cada criança que assistisse à peça. Então, as crianças entraram para assistir, mas todas ‘compradas’ pelo dono do teatro. Todas com um chocolate de brinde.

Daí as crianças lotaram o teatro e Tatiana chegou. Imagine o público que a gente conseguiu reunir nessa sessão. Tinha meninos sem-teto, crianças que vinham com carrinho de rolimã pra dentro do teatro, uma loucura. E todos eles sabiam todas as falas. Então, aquelas brincadeiras: ‘E aí, onde é que foi não sei o quê?’, e eles respondiam: ‘Lá, lá, lá’. Eram uns vinte meninos ou mais, todos sabendo o texto inteiro da peça. ‘Olha a bruxarada, não sei o quê’. E esse foi o público que a Tatiana Belinky encontrou ali.”

Depoimento de Ivam Cabral, extraído do livro “Cia. de Teatro Os Satyros – um palco visceral” (Ed. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo), de Alberto Guzik (para ler a obra, na íntegra, clique aqui)

*Ivam Cabral é diretor executivo da SP Escola de Teatro

 

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