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InDica | Grupo formado na SP Escola de Teatro estreia espetáculo inspirado no mito de Lúcifer

Publicado em: 26/09/2014 |

“Lúcifer arrebentou a porta. Derrubou a porta. Chegou ao lugar luminoso onde a verdade esplende seus fogos!”

 

O mito de Lúcifer é o mote do espetáculo inaugural do grupo Zona de Operação, formado por aprendizes da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, que entra em cartaz amanhã (27), no Viga Espaço Cênico, com ingresso no sistema Pague Quanto Puder.

 

A montagem teve como disparador uma pesquisa sobre o Documento 53 do Livro de Urântia, de autor desconhecido, que narra a Rebelião de Lúcifer, retratando-o como um soberano deposto, enquanto Urântia seria a própria Terra. Soma-se a isso uma série de questionamentos acerca da atual situação sócio-política-econômica do Brasil e do que move artisticamente cada um dos seis integrantes do coletivo.

 

As manifestações de junho do ano passado também atravessaram o processo criativo do grupo: à medida que os protestos se espalhavam pelas ruas, reverberavam nas investigações dos artistas e contaminavam suas proposições. 

 

“Naquele momento nos sentimos Lúcifers. Estávamos insatisfeitos com o mundo ao nosso redor e estávamos colocando a boca no trombone. Esse foi o nosso sentimento como artistas: o que nos batia na bunda todos os dias? Acho que Lúcifer sentiu a mesma coisa. E essa coisa bateu “feio” em sua bunda”, comenta a atriz Ana Dulce Pacheco. 

 

Ana Dulce Pacheco em “Lúcifer” (Foto: Marcello Garcia)

 

Assim, foi traçado um paralelo entre as temáticas, levando à questão: “o que se caracteriza como um levante?”. Para encarar essa pergunta, o grupo buscou referências no livro “T.A.Z” (“Temporary Autonomous Zone” – “Zona Autônoma Temporária”), de Hakim Bey. A inspiração estética veio da obra do cineasta russo Andrei Tarkovsky, especialmente o filme “Stalker”.

 

No espetáculo, o aprisionado Lúcifer tenta dar sentido à sua atual situação carcerária. Para tanto, divide-se entre sua realidade e a tentativa de resgatar as atitudes rebeldes que o conduziram até ali. Dessa forma, ganham espaço tanto os devaneios criativos dos esforços de lembrança, com todas as suas recriações e invenções, quanto os encontros concretos e reais, como a visita do próprio Cristo ao cárcere do anjo deposto.

 

Entram em cena Ana Dulce Pacheco, Isabela Delambert, Sofia Abreu e Zé Motta, todos aprendizes de Atuação na SP Escola de Teatro. A direção e a organização dramatúrgica são assinadas por Luciano Gentile, que, por sua vez, é artista convidado do curso de Atuação da Escola. Após os “vômitos cênicos” lançados pelos atores, a estrutura adotada para o espetáculo foi um roteiro com prólogo, três atos e epílogo.

 

Segundo Ana Dulce, o desafio do grupo é, olhando para a história de Lúcifer, que teria sido autor de uma Declaração pela Liberdade, compreender “quando uma rebelião se transforma em revolução?”. “Lúcifer somos todos nós que de algum jeito olhamos de forma diferente para o mundo, que ‘suspeitamos’ de como o mundo está e falamos, gritamos, nos manifestamos. Estamos num mundo cheio de ficções e achamos que não suportaríamos a verdade. O nosso Lúcifer também não teve fisicalidade para ver a verdade, assim como nós, mas se rebelou.”

 

“Lúcifer” tem sessões aos sábados, às 21h; e domingos, às 19h, até 12 de outubro. 

 

Depois, no dia 4 de novembro, a montagem volta ao cartaz, com sessões de terças e quartas, às 21h, até 10 de dezembro.

 

O grupo

O Zona de Operação surgiu das afinidades e das conversas “entre um andar e outro, entre os elevadores, no hall” da SP Escola de Teatro. No ano passado, após ingressarem no curso de Atuação, Ana Dulce, Sofia, Isabela e Zé começaram a ver espetáculos juntos e levar as discussões iniciadas em sala de aula. Motivados pelo desejo de terem um grupo, logo convidaram o formador Luciano para orientar seus trabalhos. A eles, juntou-se a produtora Daniela Garcia, que havia ingressado o no curso de Técnicas de Palco. Todos viraram membros-artistas.

 

“A SP abriu as portas para esse encontro. Sempre comentamos que o Zona nasceu na SP. As afinidades ocorreram lá. Não foi à toa que convidamos o Luciano pra fazer parte do grupo, percebemos um alinhamento de visão de mundo e vimos que falávamos a mesma língua sobre teatro e arte em geral. A Escola influenciou muito nas pesquisas. Hoje estamos no módulo Vermelho, o módulo da autonomia, mas já passamos por personagem e conflito, narratividade, performatividade, e de certa forma tudo estava conosco”, conclui Ana Dulce.

 

O grupo também se prepara para uma turnê, em 2015, em algumas cidades do interior de São Paulo e do nordeste. Ainda em 2015, farão um intercâmbio na Alemanha.

 

Contemplado pelo ProAc – Primeiras Obras de 2013, o grupo Zona de Operação conta, ainda, com cinco profissionais de diferentes áreas:  Alda Maria Abreu, atriz e bailarina e integrante do Taanteatro, é a preparação corporal; Si Kiomi, figurinista e cenógrafa e a iluminadora e bailarina Clara Rubim de Toledo. Para completar a equipe, a sonoplastia é assinada pelos designers de som César Balbino e João Moreira.

 

Serviço

“Lúcifer”

Quando: Sábados, às 21h; e domingos, às 20h (de 27/9 até 12/10)

Terças e quartas, às 21h (de 4/11 até 10/12)

Onde: Viga Espaço Cênico

R. Capote Valente, 1323 – Pinheiros

Tel.: (11) 3822-7049

Duração: 60 minutos

Classificação etária: 16 anos

Ingresso: Pague Quanto Puder

 

Texto: Felipe Del

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