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Gianni Ratto por Carlos Eduardo Carneiro

Publicado em: 28/03/2012 |

O Artesão do Teatro

 

Gianni. O que falar sobre Gianni Ratto? Um grande homem, um grande homem de teatro. Diretor, iluminador, cenógrafo, figurinista e professor de teatro e, porque não dizer, um perfeccionista, um artesão do teatro.

 

Artista italiano, de Milão, que já estava consagrado como iluminador e cenógrafo nas Óperas do Teatro Alla Scala e no Piccolo di Milano (que criou juntamente com Giorgio Strehler), se inquietava, e muito, nos anos 1950, pois queria fazer muito mais no teatro, mas não conseguia espaço. Foi assim que, a convite de uma jovem atriz, Maria Della Costa, e seu marido, Sandro Polônio, que estavam montando uma companhia no Brasil, aceitou o convite para ser seu diretor. 

 

Veio a São Paulo, sem nada conhecer do Brasil, aventurar-se, inquieto pelo “vírus” do teatro. Montou “O Canto da Cotovia”, de Jean Anouilh, espetáculo que ganhou todos os prêmios daquele ano. Depois disso, nunca mais parou, e nunca mais deixou de amar o Brasil, País que adotou como seu, de coração.

 

Gianni foi um pioneiro ao descobrir e valorizar o teatro brasileiro, revelando, para nós, o talento de Jorge Andrade, e encenando, pela primeira vez, “A Moratória”, onde colocava como protagonista uma jovem atriz que seria sua seguidora e aluna por muitos anos, Fernanda Montenegro. Passou pelo TBC e por inúmeras companhias, nunca deixando de respeitar o teatro e aqueles que o fazem.

 

Depois de lecionar teatro na Bahia, no final dos anos 1950, Gianni retorna à Itália, onde permanece durante um ano. Mantendo constante correspondência com Fernanda Montenegro, Fernando Torres e Sérgio Britto, retorna ao Brasil para fundar o Teatro dos Sete, também com Luciana Petrucelli (grande figurinista e sua esposa, na época), Ítalo Rossi e Alfredo Souto de Almeida. Com o grupo, mais uma vez valorizou o teatro nacional ao montar “O Mambembe”, de Arthur de Azevedo, uma das maiores e melhores coisas já vista no teatro, que lotou o Theatro Municipal do Rio de Janeiro com estrondoso sucesso, segundo a própria Barbara Heliodora.

 

Como era de seu feitio, ousou, ao levar para o Teatro do Copacabana Palace, um texto que fugia completamente dos padrões da elite carioca, “O Cristo Proclamado”, de Francisco Pereira da Silva, que foi um fracasso. Porém, obteve muito sucesso com a companhia, com as peças “Festival de Comédia”, de Martins Pena; “Com a Pulga Atrás da Orelha”, de Feydeau; “Mirandolina”, de Carlo Goldoni, entre tantos. O grupo durou, ironicamente, exatos sete anos, dissolvendo-se sem um motivo específico.

 

Foi o idealizador do Teatro Novo, que pretendia ser uma espécie de Centro Cultural, com montagem de textos brasileiros por uma companhia estável, apresentar companhias internacionais que estivessem viajando, oferecer cursos técnicos de teatro, cursos de cultura musical, história da arte e história do teatro, realização de festivais de música popular, espetáculos de bonecos e marionetes, cursos para a formação de jovens atores, selecionados por meio de provas de admissão qualitativas. Infelizmente, por motivos políticos, o projeto não vingou.

 

Gianni continuou trabalhando como diretor, iluminador, cenógrafo e, ainda, escrevendo livros sobre teatro e de contos.

 

Muita coisa há que se falar deste grande homem, que prezava a ética e o profissionalismo, mas, acima de tudo, respeitava o ser humano. 

 

O teatro brasileiro deve muito a esta grande figura que foi Gianni Ratto, e as palavras ficam pequenas ao se recordar um pouco de sua trajetória, que deixou sólidas marcas no Brasil.

 

Por último, vale lembrar que todo o material por ele deixado, ou sobre sua vida, pode ser consultado no Instituto Gianni Ratto, criado após sua morte.

 

Gianni querido, mais uma vez, obrigado por você ser um homem de teatro e, como ele, ter transformado a vida dos que o conheceram.

 

Gianni definia o edifício teatral como “o lugar onde nada existe e tudo pode acontecer”, e ele realmente provou isto.

 

 

Veja o verbete de Carlos Eduardo Carneiro e Gianni Ratto na Teatropédia.

 

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