EN | ES

Freud, Cultura e Arte

Publicado em: 04/05/2011 |

A professora Ines Loureiro ministrou uma aula nesta segunda-feira, 25, no curso Interfaces: Teatro, Cultura e Psicanálise, da Difusão Cultural. O formador do curso, Sergio Zlotnic, também assistiu à aula, que versou sobre Freud e sua concepção de arte.

Segundo Ines, o médico neurologista, que viveu por 83 anos (1856-1939), “tinha a intenção não só de tratar seus pacientes, como também de formular uma teoria geral sobre o psiquismo e o funcionamento humano”. Por isso, Freud acabou estendendo seus estudos para além do plano individual, abordando temas sociais e culturais, como o direito, a religião e arte. Na verdade, Freud não chegou a escrever textos sistemáticos sobre estética, mas é possível compor um panorama de suas concepções sobre o assunto a partir de vários ensaios publicados e também de sua ampla correspondência privada.

O pai da psicanálise viveu boa parte da vida em Viena, que, em final do século XIX, era um importante centro das vanguardas artísticas. Freud possuía uma sua sólida formação cultural, o que lhe deu um vasto repertório para falar de arte, mas era um tanto avesso às inovações que ocorriam à sua volta. Tinha reservas em relação aos surrealistas, por exemplo, que muito se interessaram pela investigação psicanalítica dos sonhos (sobretudo pela noção de inconsciente e pela associação livre). Como Freud considerava que a arte deve elaborar os conteúdos inconscientes ao invés expressá-los diretamente, achava que a arte surrealista acabava se avizinhando da loucura. Para ele, “a expressão crua do inconsciente não é arte, é psicose”.

Este é um exemplo que como Freud sustenta algumas posições muito questionáveis e polêmicas no campo da arte, mas temos que considerá-las no contexto de sua época. Não há como entender a teoria freudiana da arte sem levar em conta que a partir do século XVIII e do Romantismo começa a predominar a concepção de que a obra é expressão do mundo interior do artista, e não imitação da realidade, como no Classicismo. É este cenário cultural que torna possível a Freud propor que a obra de arte é uma formação do inconsciente, isto é, uma realização disfarçada de desejos reprimidos.

A palestrante encerra a sua fala lembrando que “nunca foi intenção de Freud produzir uma teoria geral da arte; suas idéias neste campo fazem parte de um esforço mais amplo de compreender o psiquismo humano, o que implica necessariamente pensar a cultura e suas formações.”