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Emiliano Queiroz por Maria Letícia

Publicado em: 27/09/2012 |

Cumpre temporada no Teatro dos Quatro, no Rio de Janeiro, a peça “Na Sobremesa da Vida”, estrelada pelo ator Emiliano Queiroz que, em cena, conta… a sua própria história. A montagem foi inspirada no livro homônimo, escrito pela ex-mulher do ator, Maria Letícia, para a Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (para ler o livro, na íntegra, clique aqui.)

E resumir 76 anos de história em 1h10 não é nada fácil – um desafio cumprido, com louvor, pelo diretor Ernesto Piccolo. No palco, Emiliano revive sua trajetória, que se confunde – e muito – com a própria saga do teatro, TV e do cinema brasileiros.

Assim, nesta semana, a seção Bravíssimo é dedicada ao ator, que tantos tipos marcantes viveu na TV, como Dirceu Borboleta, de “O Bem-Amado”, e Juca Cipó, de “Irmãos Coragem”, ambos na Rede Globo. A seguir, o Prefácio da escritora, roteirista e produtora Maria Letícia para a obra que assinou sobre o ex-marido:

“Quando Emiliano me levou para conhecer sua mãe, Donana me falou com seu humor cearense: ‘– Já tinha apelado a Santo Antonio para Emiliano encontrar uma moça boa e que gostasse dele para casar, como você’. Disse a ela que eu também andei rezando para o santo, de modo que não chegava a ser um milagre de Santo Antonio, que só fez juntar os pedidos.

Nem me surpreendi quando Rubens Ewald Filho – editor da Coleção Aplauso – disse que eu era a pessoa certa para escrever o livro de Emiliano Queiroz.

Emiliano vê o mundo através do teatro; sua formação, desde o princípio, se fez seletiva, culturalizando o que lhe chegou pela via do faz-de-conta. Tornou-se um ator em sua essência.

Quando, em 1977, demos a volta ao mundo, seu interesse e sua compreensão foram norteados pela óptica do teatro. Ainda criança, Emiliano transformava o quintal de sua casa em teatro. Este livro conta a trajetória de um velho ator: desde o rapaz ingênuo que sonhava adotar um pseudônimo, mudando seu nome para Clayton, até o artista consciente, cuja vida se confunde com a história do teatro, da televisão e do cinema.

Como já conhecia essa história – vivi boa parte dela – organizei a escaleta em ordem cronológica até o sucesso e sua afirmação como ator em ‘Navalha na Carne’. Daí em diante, abordei os trabalhos mais importantes de que Emiliano participou, sempre buscando em seu depoimento uma investigação sobre os métodos desenvolvidos nas montagens de peças, filmes e novelas; seus autores, diretores e intérpretes. Emiliano, em sua extensa galeria de personagens, interpretou os tipos mais variados.

Gravamos horas a fio. Contei com a inestimável colaboração de Adriano Espínola Filho. Muitas vezes, Emiliano escreveu de próprio punho seus depoimentos.

(…)

‘Quando o ano 2000 chegou, eu estava com 64 anos, entrando na sobremesa da vida, e pensei: o que ficou para trás foi para sempre. Não posso nem devo mais me preocupar com o que há de vir. A fase da procura deve gentilmente dar lugar a ser procurado. Agora me surpreendo, pois chegam a mim trabalhos e momentos de muita significação, tão gratos a um velho ator’, diz o ator.”