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Emerson Alcalde e Seus Extremos Atos

Publicado em: 26/11/2010 |

“Não sei se consigo separar essas coisas”, relata o escritor Emerson Alcalde ao tentar explicar como consegue dispersar-se para tantos campos na arte que produz.  Esse jovem, além de escritor, é ator, poeta, cantor e ativista social.

 

Alcalde divide seu tempo entre os estudos como aprendiz no curso de Dramaturgia da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, a criação de poesias, letras de Rap, textos para o teatro e na coordenação da Cia. Extremos Atos, grupo que fundou com seu colega Fernando Matraga.

 

“Conheci o Emerson no projeto “Machadianas”, realizado no Agora Teatro. Eu, que sou de Manaus, sempre brinco que sou da ZF (Zona Franca) e ele da ZL (Zona Leste) e, por isso, nos identificamos e temos empatia. Mas na realidade, profissionalmente, me identifico muito com ele e, quando assisti ao seu espetáculo infantil “Boneco de Marchinho” tive certeza disso”, revela Matraga.

 

Morador do distrito de Cangaíba, Zona Leste da capital paulista, Alcalde começou sua vida de artista ao escrever letras de rap para o seu primeiro grupo: Legião D’Mc´S. Assim, passou anos ganhando a vida com shows na região onde mora. Nessa toada, ingressou no Grupo Teatral Cervantes, que dedica-se, desde sua formação, em 1981, a fazer um teatro cujas raízes estão nos anseios das classes marginalizadas pela sistema.

 

Foi nesse momento que Alcalde começou a refletir sobre o poder de transformação que essa arte possui nas classes baixas. “Atualmente, o teatro não para de crescer na periferia. Mas esse teatro não encena clássicos nem é composto por grandes cenários, belos figurinos ou atores conhecidos nacionalmente. Esse teatro é feito por grupos de jovens que utilizam poucos recursos técnicos e falam, sobretudo, de questões que se relacionam com sua vida na comunidade, com textos criados, em sua maioria, coletivamente”, relata em sua crônica “O Pobre e o Teatro”.

 

Alcalde, então, se forma como ator profissional após ganhar uma bolsa integral para estudar na Universidade Anhembi Morumbi. Logo em seguida, passa a estudar dramaturgia na Escola Livre de Teatro, em Santo André e a frequentar cursos com os dramaturgos Kil de Abreu, Samir Yasbek e, também, com o diretor Hugo Possolo. “Esse momento foi crucial e determinante para que eu passa-se a pensar, estudar e investigar a fundo o processo da escrita”, explica.

 

Certo dia, ao participar da batalha de poesia Zona Autônoma da Palavra (Zap!), o escritor e empreendedor cultural Alexandre Buzzo convidou Alcalde para participar do projeto Sarau Suburbano Convicto, do Circuito Sesc de Artes 2010, onde esse poeta realizou uma turnê pelo interior de São Paulo para declamar seus versos “Massa”, “A Flor”  e “Senhor da Limpeza”.

 

Após o término desse projeto, no ínicio do mês de novembro, Alcalde continua sua jornada e apresenta seus monólogos “Pixologia” e o “Boneco de Marcinho”em diversas cidades do interior de São Paulo, também participa da edição 2010 da Satyrianas, com o texto “Sua”, no projeto Ouvi Contar, (que, em parceria da SP Escola de Teatro, leva  leitura dramática até a residência de moradores da Praça Roosevelt) e, logo, fará uma visita guiada ao seu bairro para o programa “Manos e Minas”, da TV Cultura. Um aprendiz da vida que, parodiando seu poema “Flor”, não nega sua raiz. Raiz que cresce para baixo para poder subir.