EN | ES

Dostoiévski no SP Dramaturgias

Publicado em: 05/06/2013 |

Um cheiro de talco mentolado tomava conta do 8º andar da Sede Roosevelt da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. Tudo para criar um ambiente empoeirado, underground, onde se daria a leitura da peça “Subterrâneo”, da aprendiz de Dramaturgia Heloísa Cardoso, baseado em “Notas de Subsolo”, de Fiódor Dostoiévski.

Em cena, os também aprendizes Zé Motta, Fernanda Otaviano, Bruna de Moraes e Marcelo Oriani, todos sob a direção da colega Talita Rosa. Eles deram vida a personagens que habitam o imaginário de um homem isolado, em algum lugar subterrâneo, que revelam tudo o que faz com que ele permaneça inerte diante de uma cidade em constante movimento. A partir dessas revelações, o homem se perde em lembranças de suas tentativas de adequação e se dilui como sujeito: o seu discurso se estilhaça e sua fala é atravessada por vozes do ressentimento, em figuras divididas nos momentos presente, pesadelo e memória.

Logo após a leitura, como sempre acontece nas edições do SP Dramaturgias, foi aberto espaço para debate entre o público presente e os participantes do exercício. Alessandro Toller, formador do curso de Dramaturgia, disparou a provocação para a autora, Heloísa Cardoso: “Conte sobre esse seu projeto, que começou com o texto do Dostoiévski e, depois, tomou forma própria”.

“Tudo começou, na verdade, com um pedido do Thadeo Ibarra (que concluiu os quatro módulos do curso de Atuação na Escola). Ele queria muito encenar algo baseado no texto ‘Notas de Subsolo’. Daí, comecei a adaptação, que passou a ser um texto livremente inspirado no original. Fiz um recorte da obra, focando na relação do protagonista com a prostituta. Na texto, é o próprio personagem falando com ele mesmo. Aqui, fiz a sua fala ser suprimida por várias vozes. É o sujeito como ser social”, explicou Heloísa.

“O que fizemos aqui foi apresentar um caminho para a encenação, jogando com a possibilidade das vozes”, pontuou Fernanda Otaviano.

O SP Dramaturgias tem supervisão da coordenadora do curso de Dramaturgia, Marici Salomão. A orientação está a cargo de Maria Shu, aprendiz que concluiu o ciclo de quatro módulos de Dramaturgia, em 2011, e que, entre outras obras, assina “Cabaret Stravaganza”, do repertório do grupo de teatro Os Satyros.

Sobre o SP Dramaturgias
No SP Dramaturgias, são realizadas leituras mensais de textos dramáticos. Esses textos também podem ser de autores que não façam parte da Escola, contanto que sejam inéditos. A seleção das obras a serem lidas se pauta em critérios artísticos (além de inéditos, textos que dialoguem com questões da contemporaneidade, quer na forma, quer no conteúdo) e pedagógicos (a partir de demandas e questões oriundas do trabalho desenvolvido entre formadores e aprendizes na Escola). Os interessados em participar devem enviar seus textos para o e-mail: [email protected]. Os selecionados serão lidos por aprendizes e formadores da Instituição.
 

 

Texto: Esther Chaya Levenstein