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Dionísio no Currículo

Publicado em: 22/02/2011 |

A vida dos coordenadores, formadores e amigos da Escola, trabalhos, “Ubu-Rei”, cotidiano, piadas, bebidas e Ibsen inspiraram Emerson Alcalde, aprendiz de Dramaturgia da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, a escrever um poema para a Escola.

 

Alcalde, que divide seu tempo entre as carteiras de aprendiz e suas atividades como escritor, ator, poeta, cantor, ativista social e coordenador da companhia Extremos Atos, conta que, na época em que escreveu o poema, estudava a questão do pós-colonial e vivia intensamente a montagem da peça “Ubu-Rei”, de Alfred Jarry, que apresentou, junto aos seus colegas, durante o Experimento do Módulo Amarelo, em novembro de 2010.

 

“A princípio a poesia ia falar das nossas leituras e encontros, mas depois foquei na Escola e em algumas situações que vivi na sala de aula, como as experiências conturbadas que tivemos com o espetáculo ‘Ibsen – Inimigo do Povo’, que encenamos durante o Experimento do Módulo Verde”, revela.

 

Sobre o convívio com os colegas, Alcalde conta que apesar das aulas no curso de Dramaturgia serem densas e teóricas, a turma tem tempo para descontração e união. “São pessoas muito agradáveis. Tomamos café juntos no barzinho em frente à Escola e até viajamos em um grupo de 14 pessoas para o Rio de Janeiro neste final de ano. A turma é bem unida. Tenho boas lembranças de nossas caminhadas até a Rua Augusta para assistir a filmes e conversar sobre eles”, conclui.
 
 

Leia abaixo “Dionísio no Currículo”, poema escrito em homenagem a SP Escola de Teatro.

 

DIONÍSIO NO CURRÍCULO
Por Emerson Alcalde

 

Na sala me embriago com as teorias de Aristóteles
No bar me concentro na lógica de cada gole
Um Engov. Ópis, ops, o telefone, meu irmão Karamazov
Fiquei imóvel como os personagens de Tchecov.
Saio do balcão meio maria-mole
Nos corredores os autores ébrios escrevendo sobre o cereal killer
com chá, granola, caipora corrobora com Zola é natural naturalista
a boemia o fogo paulista
 
 

com a coordenação somos épicos-brechtianos
com a direção; dramáticos
com a atuação; românticos
e assim vamos experimentando as bebidas as tomadas as comidas
Viajo nas leituras me dá tontura.
No intervalo vou à rua tomado pela loucura de Hera
direto pro boteco do Tiozinho Vânia ter com as amarelas
 
 

Já é primavera tempo da colheita da uva e de filosofar na alcova
e imaginar as humoristas nuas sem cenários e figurinos
representando a Escola de mulheres e maridos de Molière!
Mulher, como tem gente que não gosta de… Molière?
Volto a aula pra expurgar o excrerimento.
 
 

Pausa longa o aprendiz entra no escuro com as pontas dos pés
ta rolando um vídeo do Tarkovisk e o filme é;
A Infância de Ivan
Um garotinho magrinho e corajoso e hoje um bom vivã
 
 

Vou ser bem realista BEBI mais do que eu li.
E ninguém vai apagar a memória da cana de Newton porque ta na física
e na construção da personagem simbolista
O Rei e a Meretriz.
Sonhei que tava indo com a Cléo pra Paris
num palco giratório em 120 dias
e as satyrianas em volta encenando o repertório das putarias
 
 

To lendo o Cerejal e vendo gaivotas e do outro lado da praça a Fedra travestida colorida com o Joaquim e o Cabral
isso ta me parecendo uma colônia de Portugal.
Essa usina é uma grande feira tem até freira, loucos, cegos e macumbeiras.
A escola é pós-moderna: serra e martela
incorporou Dionísio no currículo no rabo de galo
é o falo neste pátio aberto vamos, em coro, os duzentos fazer um brinde
ao saudoso Alberto Guzik.

EVOÉ!!!