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Com vocês, Ruth Escobar!

Publicado em: 20/04/2012 |

Ela está completando cinco décadas no Brasil. São 50 anos dedicados ao teatro, seja como produtora cultural ou como atriz. Hoje, celebrando essa bela trajetória, a SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco dedica o seu dia a homenagear Ruth Escobar.

Serão quatro textos, escritos por Ivam Cabral, Carlos Hee, Lulu Librandi e um trecho do livro “Emilio Di Biasi – O Tempo e a Vida de um Aprendiz”, de Erika Riedel. Todos eles relatam suas experiências pessoais e profissionais com uma das principais artistas da história do teatro brasileiro.

Para começar, leia abaixo uma breve biografia de Ruth Escobar, com informações sobre sua vida e obra, extraída da Teatropedia – Enciclopedia Virtual das Artes do Palco

Ruth Escobar

Ruth Escobar (Porto, Portugal, 1936) é atriz e produtora cultural.

Biografia

Maria Ruth dos Santos Escobar, mais conhecida como Ruth Escobar, nasceu na cidade do Porto, em Portugal, em 1936, e, no Brasil, tornou-se uma das mais importantes produtoras culturais do País e atriz de grande magnitude, sendo uma das mais notáveis personalidades do teatro brasileiro, empreendedora de muitos projetos culturais especialmente comprometidos com a vanguarda artística.

Portuguesa de origem, mudou-se para o Brasil em 1951. Casou-se com o filósofo e dramaturgo Carlos Henrique Escobar e juntos, em 1958, partiram para a França, onde fez cursos de interpretação. Ao retornar para o Brasil, montou companhia própria, a Novo Teatro, em parceria com o diretor Alberto D’Aversa.

Protagonizou “Antígone América”, texto de seu marido, em 1962, após algumas experiências de palco, como “Mãe Coragem e Seus Filhos”, de Bertolt Brecht, em 1960, e “Males da Juventude”, de Ferdinand Bruckner, em 1961, ambas dirigidas por D’Aversa.

Em 1964, decidiu fazer teatro popular e adaptou um ônibus, que se transformou em palco, levando espetáculos à periferia de São Paulo, iniciativa que recebeu o nome de Teatro Popular Nacional. Nessa nova experiência teatral passaram Antônio Abujamra, que dirigiu “A Pena e a Lei”, de Ariano Suassuna; Silnei Siqueira, que encenou “As Desgraças de uma Criança”, de Martins Pena, entre outros. As atividades do Teatro Popular Nacional se encerraram em 1965.

Em 1964, Ruth inaugurou seu próprio teatro, que foi batizado com seu nome, no bairro da Bela Vista, em São Paulo. Casou-se com o arquiteto Wladimir Pereira Cardoso que se tornou cenógrafo das produções da companhia. Entre outras, foram ali encenadas a “A Ópera dos Três Vinténs”, de Bertolt Brecht e Kurt Weill, com direção de José Renato, 1964; “O Casamento do Sr. Mississipi”, de Dürrenmatt, dirigida por Jô Soares, 1965; “As Fúrias”, de Rafael Alberti, outra encenação de Abujamra, em 1966; “O Versátil Mr. Sloane”, de Joe Orton, tendo Antônio Ghigonetto como diretor, em 1967; e “Lisístrata”, de Aristófanes, encenação de Maurice Vaneau, em 1968.

Em 1968, com a vinda para o Brasil do diretor franco-argentino Victor Garcia, convidado para a montagem de “Cemitério de Automóveis”, adaptação do próprio Garcia para a obra de Fernando Arrabal, uma antiga garagem na Rua 13 de Maio foi totalmente remodelada e a encenação destacou Ruth Escobar como atriz e produtora de grande projeção. Seu prestígio aumentou, em 1969, com a produção de “O Balcão”, de Jean Genet, deslumbrante encenação de Victor Garcia cenografada por Wladimir Pereira Cardoso. A produção arrebatou todos os prêmios importantes do ano e Ruth Escobar foi agraciada com o troféu Roquette Pinto para a personalidade do ano.

Polêmicas sempre cercaram a atriz e produtora. Uma delas ocorreu quando produziu “Missa Leiga”, de Chico de Assis, com direção de Ademar Guerra, em 1972, proibida de utilizar a Igreja da Consolação como palco e montada numa fábrica; outra envolveu “A Viagem”, adaptação cênica do poema Lusíadas, de Luís de Camões, por Carlos Queiroz Telles, cuja estréia contou com a presença do primeiro ministro de Portugal, Marcelo Caetano.

Nos anos subsequentes, Ruth Escobar ficou à frente do Centro Latino-Americano de Criatividade, projeto abortado por falta de recursos, bem como centralizou no seu teatro importantes manifestações contra o regime militar, inclusive a fundação do Comitê da Anistia Internacional.

Com o 1º Festival Internacional de Teatro, em 1974, Ruth Escobar deu outro passo ambicioso: apresentar periodicamente em São Paulo o melhor da produção cênica mundial. A cidade pôde conhecer, entre outros, o trabalho de Bob Wilson (“Time and Life of Joseph Stalin”, que a Censura obrigou a mudar para “Time and Life of David Clark”), a excepcional criação de “Yerma”, de Victor Garcia, com Nuria Espert; além dos encenadores Andrei Serban e Jerzy Grotowski.

Em 1974, centralizou a produção para circuito internacional de “Autos Sacramentales”, encenação de Victor Garcia baseada em Calderón de la Barca. Estreado em Shiraz, Pérsia, a realização triunfou na Bienal de Veneza, Itália, em Londres e em Portugal.

Em 1976, outro projeto de fôlego – a Feira Brasileira de Opinião – reuniu textos dos mais destacados dramaturgos da época, mas foi interditado pela Censura, o que a obrigou a arcar com os prejuízos da montagem em andamento.

No 2º Festival Internacional, de 1976, chegaram ao país o grupo catalão Els Joglars, com “Allias Serralonga”; os City Players, do Irã, com uma inusitada montagem de “Calígula”, de Albert Camus; a companhia Hamada Zenya Gekijo, do Japão; o grupo G. Belli, da Itália, com “Pranzo di Famiglia”, dirigida por Tinto Brass, entre outros.

Em 1977, Ruth Escobar resolveu voltar à cena. Para interpretar a exasperada Ilídia de “A Torre de Babel”, trouxe a São Paulo o autor Fernando Arrabal para dirigi-la. Produziu “A Revista do Henfil”, de Henfil e Oswaldo Mendes, sob a direção de Ademar Guerra, em 1978; no ano seguinte, Ruth Escobar voltou à cena em “Caixa de Cimento”, encenação do franco-uruguaio Juan Uviedo; ainda em 1979, produziu “Fábrica de Chocolate”, texto de Mario Prata que aborda a tortura.

Entre as grandes atrações do 3º Festival Internacional, em 1981, estavam o grupo norte-americano Mabu Mines; o belga Plan K; o La Cuadra, de Sevilla; além do uruguaio Galpón e do português A. Comuna.

Nos anos 80, Ruth Escobar afastou-se parcialmente do teatro; foi eleita deputada estadual para duas legislaturas e dedicou-se a projetos comunitários. Em 1994, voltou aos festivais internacionais, então mais discretos, porém ampliando sua abrangência ao trazer grupos de teatro, de dança, de formas animadas ou que unem todas essas linguagens em uma manifestação híbrida, como o Aboriginal Islander Dance Theatre; o Bread and Puppet; o Cricot 2; os Dervixes Dançantes. A quinta edição, de 1995, acentuou a forte tendência à diversificação ao trazer para o país a dança de Carlota Ikeda e o grupo japonês Dumb Type, o russo Levdodine com Gaudeamus, e Michell Picolli, entre outros. Em 1996, Phillipe Decoufflé; o grupo Dong Gong Xi Gong, de Taiwan; e Joseph Nadg foram os destaques da 6ª edição.

Em 1987, Ruth Escobar lançou “Maria Ruth – Uma Autobiografia”, contando parte da sua trajetória, na qual a produção cultural se mescla, de modo indissolúvel, à sua atuação social, voltada sobretudo para o inconformismo com as regras estabelecidas.

Em 1990, retornou aos palcos, numa encenação de Gabriel Villela, de “Relações Perigosas”, de Heiner Müller.

Trabalhos:

Atriz

  • 1960- Mãe Coragem e Seus Filhos, de Bertolt Brecht
  • 1961- Os Males da Juventude, de Ferdinand Bruckner
  • 1962- Antígone América, de Carlos Henrique Escobar
  • 1964- A Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill
  • 1964- A Farsa do Mestre Patelin
  • 1964- As Desgraças de uma Criança, de Martins Pena
  • 1965- Soraia Posto 2, de Pedro Bloch
  • 1965- Histórias do Brasil
  • 1965- O Casamento do Senhor Mississipi, de Friedrich Dürrenmatt
  • 1966- As Fúrias, de Rafael Alberti
  • 1966- Os Trinta Milhões do Americano
  • 1967- O Estranho Casal, de Neil Simon
  • 1967- O Versátil Mr. Sloane, de Joe Orton
  • 1968- Roda Viva, de Chico Buarque
  • 1968- Cemitério de Automóveis, de Fernando Arrabal
  • 1968- Lisístrata, de Aristófanes
  • 1968- Os Sete Gatinhos, de Nelson Ridrigues
  • 1969- O Balcão, de Jean Genet
  • 1969- Romeu e Julieta, de William Shakespeare
  • 1969- Os Monstros
  • 1971- Os Dois Cavaleiros de Verona, de William Shakespeare
  • 1974- Capoeiras da Bahia
  • 1977- Torre de Babel, de Fernando Arrabal
  • 1978- Revista do Henfil, de Henfil e Oswaldo Mendes
  • 1979- Fábrica de Chocolate, de Mario Prata
  • 1979- Caixa de Cimento, de Juan Uviedo
  • 1982- Irmã Maria Ignácio Explica Tudo, de Christopher Durang
  • 1989- Relações Perigosas, de Heiner Müller

 

Produtora

  • 1959- Festival Branco e Preto
  • 1960- Antígone América
  • 1964- A Pena e a Lei
  • 1964- A Ópera dos Três Vinténs
  • 1964- As Desgraças de uma Criança
  • 1966- As Fúrias
  • 1967- O Estranho Casal
  • 1967- O Versátil Mr. Sloane
  • 1968- Cemitério de Automóveis
  • 1968- Os Sete Gatinhos
  • 1968- Roda Viva
  • 1969- O Balcão
  • 1969- Romeu e Julieta
  • 1969- Os Monstros
  • 1970- Cemitério de Automóveis
  • 1972- Missa Leiga
  • 1972- A Massagem
  • 1972- A Viagem
  • 1973- Missa Leiga
  • 1974- Autos Sacramentais
  • 1974- Capoeiras da Bahia
  • 1974- Festival Internacional de Teatro, 1.
  • 1976- Festival Internacional de Teatro, 2.
  • 1978- Revista do Henfil
  • 1979- Fábrica de Chocolate
  • 1979- Caixa de Cimento
  • 1981- Festival Internacional de Teatro, 3.
  • 1982- Irmã Maria Ignácio Explica Tudo
  • 1989- Relações Perigosas
  • 1994- Festival Internacional de Artes Cênicas, 4.
  • 1995- Festival Internacional de Artes Cênicas, 5.
  • 1996- Festival Internacional de Artes Cênicas, 6.
  • 1997- Festival Internacional de Artes Cênicas, 7.
  • 1999- Festival Internacional de Artes Cênicas, 8.
  • 2001- Os Lusíadas

 

Veja as outras homenagens a Ruth Escobar:
Ruth Escobar por Ivam Cabral

Ruth Escobar por Carlos Hee

Ruth Escobar por Lulu Librandi

Ruth Escobar por Emilio Di Biasi




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