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Com a Palavra, Simon Norrthon

Publicado em: 24/05/2012 |

O Portal da SP – Escola de Teatro procurou Simon Norrthon, chefe do departamento da Academia de Artes Dramáticas de Estocolmo, a Sada, para saber mais sobre a parceria entre as duas instituições. Foram feitas duas perguntas básicas a ele: a importância da “dobradinha” para a escola sueca e o que mais chamou a atenção no modelo brasileiro. Eis sua resposta, na íntegra:

 

“Eu vou tentar responder às suas questões de uma maneira tão simples quanto possível, o que não será uma tarefa fácil, já que há tanto a dizer.

Você me fez duas questões – a importância do projeto para nossa instituição e o que mais me chamou a atenção na SP Escola de Teatro, que é o modelo escolhido por nossa escola. As questões estão intimamente ligadas. Antes de mais nada, nossa viagem a São Paulo, em dezembro (2011), foi realmente enriquecedora. Eu estive pensando muito sobre o que foi mais inspirador nessa viagem. Eu encontrei tantas coisas no modo de produção dramática da escola, que eu acho que nós temos a necessidade delas em nosso teatro. Coisas tão raras de serem vistas por aqui…

Em todas as produções que vimos, os aspectos comuns foram o trabalho com pesquisa e a interação com o público. Ambos esses fatores dão à SP Escola de Teatro um forte senso de importância social. As performances estão discutindo problemas reais para um público real. Isso pode parecer óbvio para o pessoal da Escola, mas teatros europeus ainda realizam uma série de montagens clássicas e mesmo que nós tenhamos todas essas grandes instituições, o teatro, por vezes, tende a estar ‘posando’ em vez de interagir. Eu adoraria integrar pesquisas na área de atuação e realizar pesquisas no departamento de artes. Eu também experimentei isso com vocês aí na SP: o teatro não é apenas a arte – é uma linguagem.

Quando abordei essas questões com o Rodolfo (García Vázquez, Coordenador do curso de Direção da SP Escola de Teatro), chegamos à conclusão de que o Brasil tem muito pouco das tradições teatrais, e nós temos muito. Essa falta de tradição dá um espírito pioneiro, com o qual você continua inventando o que o teatro é e pode ser. Nosso teatro tem, de uma forma definida, o que é o teatro e vive contente com isso. Claro que fazemos um monte de experiências, mas, hoje em dia, elas tendem a ser sobre teatro, não sobre a sociedade em que vivemos.

Por isso optamos pela SP Escola de Teatro. Não há nada como ela na Europa inteira. A Academia de Artes Dramáticas de Estocolmo (Sada) está no meio de uma grande transformação, pedagógica e artisticamente falando, e eu achei a estrutura pedagógica da SP Escola de Teatro corajosa e inteligente e, além disso, há o seu compromisso social. Precisamos também mostrar o mundo para nossos alunos. A melhor maneira de encontrar a si mesmo é viajar. Se pudéssemos dar aos nossos alunos a oportunidade de conhecer e criar juntos com a SP Escola de Teatro, eu tenho certeza de que eles teriam um grande impacto em seus estudos e no futuro de sua arte. Eu não posso dizer exatamente o que a nossa escola quer da SP Escola de Teatro. Isso será mostrado durante o ano que vem, mas estou confiante de que será uma grande influência para nós nos próximos anos e para a sociedade em que nossos professores e o trabalho dos nossos alunos estão inseridos.

Assim, eis o que chamou minha atenção na SP Escola de Teatro: a estrutura pedagógica, o engajamento social, o trabalho com a pesquisa e a interação com o público e com a comunidade em torno do teatro. E, claro, o desempenho poderoso.

A única dificuldade que posso encarar nesta parceria é o idioma. Nós nunca vamos chegar a um estágio em que todos os nossos amigos brasileiros falem Inglês fluentemente ou em que nós falemos português. Mas, talvez, possamos transformar isso em uma vantagem. Essa ‘barreira’ vai nos manter curiosos um do outro. E a curiosidade pode ser a coisa mais importante neste processo”.

 

Leia mais sobre a parceria:

SP Escola de Teatro vai à Suécia

Diário de bordo