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Clóvis Garcia por Aimar Labaki

Publicado em: 13/12/2012 |

Artistas e intelectuais se desdobram em inúmeros trabalhos ao longo de sua trajetória, mas, por vezes, o que deles persiste, para as gerações posteriores, é apenas uma imagem, um gesto, um hábito. Assim talvez seja com Clóvis Garcia, recém-falecido, aos 91 anos.

Ator, cenógrafo, figurinista, professor, crítico, esteve presente no movimento teatral dos anos 40 até a edição, há pouco, de suas críticas pela Impressa Oficial. E, no entanto, o que talvez perdure na memória das gerações que virão seja o folclore: suas fichas. As famosas e perigosas fichas de Clóvis Garcia!

Citadas com um certo humor pela classe teatral, o fichário de Clóvis Garcia é, na verdade, um documento importante do teatro paulista – e o sinal inequívoco de sua seriedade e competência. Em resumo, Clóvis tinha por hábito anotar suas impressões dos espetáculos a que assistia em pequenas fichas. Ao longo dos anos, se tornaram uma coleção inestimável, fonte direta das impressões de um espectador especial sobre nossa produção. A rigor, nem sei se ainda existem ou que fim a família lhes destinará, mas, com certeza, não sumirão da memória dos fazedores de teatro de São Paulo.

Assim como ficarão as marcas de Clóvis em várias gerações de alunos a quem, desde os anos 60 até bem depois de sua aposentadoria na USP, transmitia, com a mesma convicção, suas visões sobre o fazer teatral e o amor por essa arte.

A excelente produção de teatro infantil atual deve muito a Clóvis. Foi ele um dos que mais lutou, como crítico (mas não só) para dar a essa vertente o mesmo status do teatro dito adulto. Compreendeu sua importância, não só como formadora de plateias, mas como forma legítima de criação artística.

Colega na Faculdade de Direito, de Paulo Autran, companheiro de crítica de Décio de Almeida Prado, Clóvis é mais um representante da geração inaugural do nosso teatro moderno que nos deixa.

Que seja sempre lembrado, por seu humanismo, por seu amor ao teatro, por sua competência e – por que não? – por suas fichas.

Confira os verbetes de Clóvis Garcia e Aimar Labaki, na Teatropédia.