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Cena Imersiva

Publicado em: 25/06/2012 |

Por Vicente Concilio
Especial para o portal da SP Escola de Teatro

No texto a seguir, Vicente Concilio, ator e professor da área de Teatro-Educação do Departamento de Artes Cênicas da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), fala sobre o espaço de encenação. Ele esteve no sábado (23), na sede Brás da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, para acompanhar de perto o terceiro e último Experimento do Módulo Azul.

 

 

A ocupação de eventos cênicos em espaços fora do palco à italiana levanta uma série de questões, em termos dos sentidos perseguidos pelos artistas da cena contemporânea. Mais do que uma solução para possíveis dificuldades em trabalhar nesse espaço restrito e normalmente privado, que é o palco tradicional, o que se identifica é um desejo manifesto, pelos artistas de cena, em interrogar os efeitos poéticos da construção de espetáculos em locais que já possuam uma história de usos e vivências.

Essa questão cai bem aos processos abertos pelo Módulo Azul, os quais puderam ser apreciados no último sábado (23). Nesses trabalhos, pode-se perceber que o que está em jogo não é a construção de uma situação representacional que simule um espaço à italiana em um espaço qualquer, mas sim uma procura por novas estratégias de interação com o público e por relações, mais ou menos explícitas, do texto cênico com a própria história do local em que a situação espetacular acontece.

Não raro, esse tipo de proposta também lida com situações de itinerância e o desafio suplementar está em construir essa parceria com os espectadores, a fim de que eles sejam convidados a acompanhar um mesmo espetáculo por distintos ambientes.

Essas propostas não são novas e possuem uma história de práticas e conceitos que podem ser revisitados, por sua atualidade e vínculos evidentes com o teatro que se produz hoje. Uma das principais referências nesse âmbito é Richard Schechner, que analisou sua própria experiência com propostas dessa ordem no livro Environmental Theater (1), publicado na década de 70 e referente a pesquisas artísticas que ele realizava desde a década anterior. Podemos resumir essa “cena ambientalista” a propostas que buscam derrubar as fronteiras espaciais entre artista e público, incluindo-os no mesmo espaço físico. Assim, um espetáculo ambientalista pressupõe um espectador capaz de interferir na construção cênica, uma vez que ele está imerso na obra – o que abre possibilidades de interação entre os espectadores e artistas de ordem física e sensorial.

Isso constrói um caráter processual à obra vivenciada. Amplia-se, assim, a percepção de que cada espetáculo é único, pois aquela combinação de participantes dificilmente acontecerá novamente. Tal aspecto é fundamental para a compreensão desta proposta dentro da cena performativa, ou seja, da cena que busca contato com questões caras à arte performática, para quem a noção de ato único é essencial.

(1) Há uma tradução espanhola deste título, denominada El Teatro Ambientalista. Árbol Editorial, México, DF, 1987.

 

 

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Texto (s) da Cena Contemporânea

Cena Performativa e Contemporaneidade

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