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Bom humor marca discussão sobre pedagogia da imagem

Publicado em: 12/06/2013 |

Mesmo um assunto sério pode ganhar tons coloridos e cheios de humor. Ao menos foi neste clima que aconteceu ontem (11), na Sede Roosevelt da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, a 6ª mesa do colóquio “O que é pedagogia do teatro?”, que debateu o tema “Pedagogia da imagem”.

Com mediação da curadora do evento, a Prof.ª Dr.ª Ingrid Dormien Koudela, livre-docente da ECA-USP, o encontro reuniu a premiada carnavalesca Rosa Magalhães, a cenógrafa Lorena Peixoto e o cineasta Rubens Rewald, que abriu o bate-papo.

Ele começou discorrendo sobre sua trajetória, na qual passou de estudante de Cinema, nos anos 1990, em plena era Collor, responsável pelo fechamento da Embrafilme, até os dias de hoje, quando exerce as funções de professor da ECA-USP e de diretor de cinema. “É muito interessante a questão de como agir diante de um aluno que está com uma ideia, de início, sem pé nem cabeça. Ele deve ser freado ou não? Já que essa inspiração pode originar algo criativo, interessante”, disparou Rewald.

A questão de forma e conteúdo também foi abordada pelo cineasta. “Não deveria existir separação entre educação e cultura. É como tentar separar forma e conteúdo. Não dá. Outra coisa. Vou falar, mas já sei que serei linchado aqui: eu acho os atores um pouco preguiçosos. A maioria não gosta de estudar. Eles acham que a pura presença cênica deles já garante o seu sucesso. E não é assim”, disse.

Depois, Lorena Peixoto falou de seu trabalho como coordenadora geral do Centro Técnico do Teatro Castro Alves, em Salvador, na Bahia. “Ali, trabalhamos sob limitação de carga horária. Ou seja, nossos cursos não podem ter duração superior ao total de 60 horas. Daí, por exemplo, dividimos o curso de Costura Cênica em módulos, como Iniciante, Avançado, Costura Cênica de Época. Assim, uma costureira que já tenha prática no ofício, mas nunca produziu um figurino de época, pode se especializar cursando um módulo dedicado a esse assunto”, contou.

E foi a vez de a carnavalesca Rosa Magalhães emprestar seu bom humor ao encontro. “Eu costumo dizer que a gente sempre chama a Volks pra consertar nossa Mercedes”, brincou ela, numa referência ao fato de os profissionais que lidam com as artes no Brasil disporem de poucos recursos para executar seus projetos, e terem de se virar com o que está disponível. “Uma vez, fiz um jacaré gigante, de uns 30 metros de comprimento. Um gringo perguntou pro meu assistente se era um mecatron ou um robô. Disse que era um boneco movido à base de gente. Tinha uma pessoa para mover o rabo, outra para a perna dianteira direita, outra para a traseira direita, etc. Eram umas 20 pessoas encarregadas de mexer o bicho. Nossa tecnologia é da marca barbante”, disse Rosa, arrancando gargalhadas da plateia.

Depois das explanações individuais, foi a vez de os convidados responderem às perguntas do público. A primeira veio de Lúcia Camargo, coordenadora do departamento de Extensão Cultural da SP Escola de Teatro. Ela pediu que Rosa Magalhães falasse de sua experiência como figurinista da peça “Floresta Amazônica em Sonho de Uma Noite de Verão”, dirigida por  Werner Herzog, em 1992, no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. “Não quero falar, não. Foi péssima. Se eu fosse a Lucélia Santos, não aceitaria o papel de rã preta que o Herzog deu pra ela. Ela levantou todo o dinheiro do projeto pra virar rã preta? Eu olharia pra ele e diria: ‘Não vou ser a rã preta e você não é mais o diretor’”, disparou Rosa, levando, claro, a plateia ao riso.

Em meio ao debate, Lorena Peixoto observou, momentos antes de a mesa se encerrar: “Acredito que a arte deva buscar o equilíbrio entre sua função de entreter e de ter conteúdo. Deve-se, sempre, empregar a pedagogia como instrumento social, que leve o cidadão a pensar e a ser crítico”, finalizou. Recado dado.

A próxima mesa do colóquio “O que é pedagogia do teatro?” está prevista para 25 de junho e abordará o tema “A performance e pedagogia do teatro”. Os convidados serão a diretora e atriz Beth Lopes, a Prof.ª Dr.ª Christine Greiner e a Prof.ª Dr.ª Tania Brandão. A mediação, mais uma vez, ficará a cargo da Prof.ª Dr.ª Ingrid Dormien Koudela. A entrada é franca e aberta ao público.

Sobre os participantes das mesas
Beth Lopes

Licenciada em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Santa Maria — UFSM (1979), mestre em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo/USP (1992), doutora em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo/USP (2001), pós-doutorada no programa de Linguística da Universidade Federal de Santa Maria, na linha de pesquisa de Análise do Discurso sobre a Memória do Ator (2006), e na Tisch School of Arts, na New York University (2009-2010). É professora da USP e atua na Interpretação Teatral. Como encenadora de espetáculos experimentais, desde os anos 1990, desenvolve a prática da sua pesquisa artística com a Companhia de Teatro em Quadrinhos. É membro da diretoria do Hemispheric Institute of Performance and Politics.

Christine Greiner
Professora do Departamento de Linguagens do Corpo da PUC/SP. Ensina nos cursos de Comunicação das Artes do Corpo e no Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica, onde coordena o Centro de Estudos Orientais. É autora dos livros “O corpo em crise — Novas pistas e o curto-circuito das representações” (2010), “O corpo — Pistas para estudos indisciplinares” (2005), “Butô — Pensamento em evolução” (1998) e “Teatro Nô e o Ocidente” (2000). Graduada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (1981), mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP (1991), doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP (1997), pós-doutorada pela Universidade de Tóquio (2003), pela International Research Center for Japanese Studies (2006) e pela New York University (2007).

Tania Brandão
Professora universitária, pesquisadora e crítica teatral. Graduada em História pela UFRJ em 1974, começou a trabalhar com a pesquisa em teatro na mesma década. Nos anos 1980, assumiu a função de crítica teatral, trabalhando publicações como IstoÉ e Última Hora. Além disso, tornou-se docente do curso de Teatro da UniRio, onde orienta mestrandos e doutorandos sobre teatro brasileiro. Em 1998, defendeu seu doutorado em História Social, “Peripécias modernas — Companhia Maria Della Costa”. Em 2009, editou o livro “Uma empresa e seus segredos — Companhia Maria Della Costa”. Integrou o júri do Prêmio Shell do Rio de Janeiro. Atualmente, é jurada dos Prêmios APTR e Cesgranrio. Faz parte também da comissão curadora do Festival de Curitiba. Além disso, é crítica teatral do jornal O Globo, onde escreve mensalmente.

Serviço
Colóquio: “O que é pedagogia do teatro?”
Mesa 7: “A performance e pedagogia do teatro”

Com Beth Lopes, Christine Greiner e Tania Brandão
Quando: Terça-feira (25), das 19h às 21h
Onde: SP Escola de Teatro – Sede Roosevelt
Praça Roosevelt, 210 – Consolação
Tel. (11) 3775-8600
Grátis


 

Texto: Esther Chaya Levenstein