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Boêmio de Profissão

Publicado em: 02/03/2012 |

“Quando criança, jogava bola, estourava bombinha em caixa de correio, pulava muro para roubar amora…”. É assim que começa a conversa com o controller da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, Luís Nader. Nascido no bairro da Liberdade, em São Paulo, o mais velho de cinco irmãos garante que teve uma infância boa e saudável.

 

A época de criança, vivida na Vila Mariana, foi marcada por brincadeiras típicas dos meninos que passam a maior parte do tempo fora de casa, rodeados por amigos. Nader se lembra de momentos engraçados, como o dia em que foi contratado para jogar futebol pelos mesmos vizinhos que não gostavam quando ele e os amigos jogavam na rua. “Eles eram da instituição Opus Dei. Em dias de reza, pediam para que eu e o pessoal parássemos de bater bola e falar palavrão. Até que, uma vez, eles nos chamaram para representar o time do clube deles.”

 

Além do esporte, Nader também adora estar em contato com o “mato”, como ele gosta de dizer. “Não sou do campo, mas gosto desse ambiente, de andar a cavalo, pescar, essas coisas”, comenta. O gosto por essas atividades veio das diversas viagens que fazia com a família. “Nós sempre viajávamos nas férias. Íamos para um sítio em Itapetininga e para uma casa em Peruíbe. Águas de Lindóia também era um local que visitávamos muito”, relembra.

 

Seu caminho cruza os palcos em 1988, aos 16 anos. Começa com teatro amador e só tira o DRT de ator profissional 12 anos depois. Paralelamente, decide cursar uma faculdade. Em 1990, opta por Engenharia Civil, na Universidade de São Paulo (USP), seguindo os passos do pai. E mais um paradoxo permeia sua vida. “Fiz estágio em uma obra. Em pouco tempo, armei uma greve com os peões. O detalhe é que um dos donos da construtora era meu pai e ele me apoiou, porque eu tinha razão”, relata. 

 

Engajado em defender os direitos dos trabalhadores, Nader teve a confirmação que precisava. “Foi neste episódio que tive a certeza de que eu não era da área de Exatas. Precisava estudar algo de Humanas.” Então, decide parar a faculdade de Engenharia e começar outra: Direito. Fez vestibular novamente na USP e passou. Dentro da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco descobriu um novo mundo, que, por sinal, o agradava muito. 

 

“Lá se falava muito de política e economia, se frequentava ambientes informais, se organizava festas, enfim, era uma vida boêmia e, ao mesmo tempo, comprometida com os assuntos do mundo”, conta Nader ao relembrar os acontecimentos que o fizeram se apaixonar pela São Francisco. Nesta nova fase, estagiou, em sua maior parte, em direito privado. 

 

Com vida dupla, dividida entre o Direito e o Teatro, só conseguiu se formar oito anos depois, em 1998. Neste mesmo ano, por ironia – ou não – do destino, novamente seu caminho se desvia de sua graduação e ele é chamado para ser redator do site Bar do Zé. “Lá, criei 10 personagens sobre os quais escrevia diariamente. O ambiente comum era o bar, onde se desenrolavam todas as histórias. Eu cheguei a entrevistar muitas pessoas e até a viajar para outros estados por conta deste trabalho”, comenta. Mas a fase mais boêmia de sua vida dura apenas um ano.

 

Sua nova rotina de trabalho seria bem diferente da anterior. Em 2000, surge o convite para trabalhar na Câmara Municipal de São Paulo, local onde permaneceu por oito anos. Em 2006, se casa com Mônica e, dois anos depois, tem uma filha, a pequena Helena. “A partir daí, tudo o que eu sonhava antes foi modificado. Meus maiores objetivos passaram a ser os dela. Quero dar bons estudos para a minha filha”, revela.

 

Depois da Câmara, presta consultoria ao Ministério da Cultura. E, em seguida, abre um pequeno escritório de advocacia, até que, em março de 2011, vem trabalhar na SP Escola de Teatro. 

 

Embora ainda não tenha realizado alguns de seus desejos, como jogar bola com Chico Buarque e abrir um botequim, Nader se diz realizado por ter conseguido alinhar sua vida a três coisas de que gosta muito: música, teatro e política. “Sempre fui louco por música brasileira e consegui trabalhar um pouco com música. Fiz Direito e achei um espaço para trabalhar na construção de políticas públicas. Em paralelo a tudo isso, sempre que pude, continuei atuando.”

 

 

Texto: Jéssika Lopes