EN | ES

Aventura Musical

Publicado em: 31/05/2012 |

Ao ouvir a palavra “música”, a maior parte das pessoas pensa em uma definição como “combinação harmoniosa e expressiva de sons”. Por tradição, esse conceito limitou-se a este significado, porém, ele pode representar algo muito mais amplo e abrangente. Esse foi um dos assuntos levantados pelo ator, músico, compositor e pesquisador Ernani Maletta, que ministrou hoje (31) uma aula aos aprendizes de Sonoplastia da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.

Sob o tema “Atuação Polifônica”, a aula se desdobrou por caminhos surpreendentes. Logo no início, Maletta convidou os aprendizes a se reunirem em um círculo para a realização de alguns exercícios. Com todos posicionados, a roda deveria girar em sentido anti-horário, enquanto seus integrantes faziam movimentos regulares e sincronizados com os braços. A atividade começou apenas sob os estímulos do artista, mas, depois, uma trilha sonora passou a conduzir as ações.

O convidado, que tem formação em Matemática, passou, então, a compartilhar com os aprendizes alguns fundamentos que formam a base de seu trabalho. A tendência à exceção é um deles. “A regra é feita para que tenhamos um objetivo em comum, mas existem vários caminhos para se chegar até ele. A linha reta é sempre mais fácil, mas não permite a criação. O ideal é obedecer desobedecendo”, afirmou.

Sua veia matemática ficou mais evidente quando ele falou sobre a música na Grécia Antiga, período em que esses dois campos de conhecimento não apenas se relacionavam, mas eram a mesma coisa. O artista também explicou que tem como premissa a teoria de que “qualquer coisa tem como característica que a distingue algo que diz respeito a uma ideia de quantidade, de número”.

A conversa foi ganhando profundidade no tema do encontro, conforme Maletta falava sobre conceitos como pulsação e regularidade, e, finalmente, sobre polifonia. “O que vocês entendem por polifonia?”, indagou, curioso.

“Apesar de ter sido vinculado unicamente à musica, o conceito de polifonia não é musical. Costumo defini-lo como a manifestação de um ponto de vista por meio de discursos que são simultâneos e equipolentes”, sintetizou. Estendendo seu raciocínio, concluiu que o próprio teatro é polifônico, justamente por ser fruto da manifestação de ideias por meio de diferentes pontos de vista.

Já a segunda parte da aula foi dedicada a mais exercícios propostos pelo convidado, que fazia sua primeira visita à SP Escola de Teatro. Segundo ele, a Instituição pode ser considerada como “um sonho” para quem trabalha com teatro. “Fiquei absolutamente impressionado e encantado. Essa possibilidade de formação múltipla que a Escola oferece, transformando cada uma das áreas em discursos de criação e dando oportunidade às pessoas de viverem essa experiência, é o sonho de todos nós. Eu imaginei que nunca pudesse existir”, resumiu.

Tiago Nascimento, aprendiz de Sonoplastia, participou da aula e relata que ficou surpreendido. “Foi sensacional. É impressionante o conhecimento e a bagagem que ele tem. A maneira como ele transmite esse conteúdo para a gente é incrível”, finaliza.

Quem é?

Nascido em Belo Horizonte, em 1963, Ernani Maletta é graduado em Matemática pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Posteriormente, obteve Doutorado em Educação pela mesma universidade, defendendo a tese intitulada “A Formação do Ator para uma Atuação Polifônica: Princípios e Práticas”.

Com o Grupo Galpão, também mineiro, assinou a direção musical e os arranjos de espetáculos como “Till, a Saga de um Herói Torto” (2009), de Luís Alberto de Abreu e direção de Júlio Maciel; “Um Homem é um Homem” (2005), de Bertold Brecht e direção de Paulo José; “Um Trem Chamado Desejo” (2000), de Luís Alberto de Abreu, direção de Chico Pelúcio; “A Rua da Amargura” (1994), de Eduardo Garrido, adaptação livre de Arildo Barros, direção de Gabriel Villela, entre vários outros.

Ainda com o diretor Gabriel Villela, fez “Hécuba” (2011); “Os Saltimbancos” (2009), “Gota d’Água” (2001) e “Ópera do Malandro” (2000), de Chico Buarque; “Replay” (2000), de Max Miller; “Morte e Vida Severina” (1997), de João Cabral de Melo Neto; “O Mambembe” (1996), de Artur Azevedo, e “Mary Stuart” (1996), de Schiller.

Também assinou a direção musical de outros espetáculos, como “O Casamento” (2006), de Bertold Brecht, direção de Marco França, com o Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare; “Antônio e Cleópatra: Um Amor Imortal” (2006), de William Shakespeare, direção de Paulo José; “Lírios” (2004), de Fernando Bonassi e direção de Fernando Mencarelli; “Elis, Estrela do Brasil” (2002), de Douglas Dwight e direção de Diogo Vilela, e “Ricardo 3º” (1999), de William Shakespeare e direção de Yara de Novaes.

O artista ainda atuou em uma série de montagens. Algumas foram: “O Malandro” (2003) e “Circo Místico” (2001), de Chico Buarque; “Édipo ao Pé da Letra” (2001), de Gustavo Cerqueira Guimarães; “Ricardo 3º” (1999), de William Shakespeare e direção de Yara de Novaes; “Morte e Vida Severina” (1997), de João Cabral de Melo Neto e direção de Gabriel Villela, e “Manoel, o Audaz” (1990), de Fernando Brant e direção de Yara de Novaes.

 

 

Texto: Felipe Del