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Artista da Finlândia relata o fazer teatral no país em tempos de pandemia

Publicado em: 21/04/2020 |

Nesta entrevista exclusiva à SP Escola de Teatro, a artista finlandesa Sanna Ryynänen, professora de Pedagogia Social da Universidade do Leste da Finlândia e integrante da Saimaa Theatre, relata como anda a produção cultural no país e as principais articulações dos artistas locais para driblar as limitações que o distanciamento social ocasionam.

SP ESCOLA DE TEATRO –  Como os artistas daí estão se articulando neste momento?
SANNA – Tem surgido muitos projetos espontâneos com o objetivo de reunir artistas isolados por causa do Coronavírus, um dos mais interessantes são o “Koronankohottamat” (“Levantados pelo Coronavírus”), um projeto de teatro com uma série de apresentações “19 toques proibidos – e um pouco mais”; e o “Karanteeniteatteri” (“Teatro de Quarentena”), um teatro virtual que tem programação semanal com transmissões ao vivo, principalmente monólogos (em Helsinki, a cidade dá suporte financeiro para o projeto, pagando para os artistas). Também têm surgido algumas iniciativas por parte das fundações privadas que financiam artistas na Finlândia. É o caso do Kone Foundation: Home residency for artists (financiamento por três meses para o trabalho artístico feito em casa).

SP ESCOLA DE TEATRO – Qual a importância da articulação entre artistas e todos os países nesse momento?
SANNA – Acho fundamental, mas como fazê-lo nos tempos de isolamento é uma questão interessante. No inicio de isolamento, vivemos uma movimentação intensa com as experimentações com os meios digitais. Parece que muitos profissionais – artistas, docentes, etc. – têm finalmente feito um “digital leap”, aprendendo e experimentando como usufruir os canais digitais para fazer e transmitir sua arte. Especialmente nas primeiras semanas de isolamento, vimos muita movimentação em Facebook Live, Instagram etc., com apresentações de teatro, concertos, spoken word… Mas agora, na quinta semana de isolamento, vejo certo cansaço espalhando. Muitas pessoas passam agora uma boa parte dos seus dias nas reuniões virtuais via Zoom, Teams, Skype, etc., e por exemplo eu tenho percebido que já estou tentando limitar o tempo que passo nas reuniões virtuais e com os conteúdos digitais. Prefiro abrir um livro ou ir andar na floresta – estou com saudades da presença real das pessoas, possibilidade de sentir as energias, abraços. Estou cansada de olhar na tela do computador. Ao mesmo tempo, muitas coisas parecem muito mais fáceis do que antes. Juntar uma reunião de 10 pessoas nunca foi tão fácil. Também, esse momento favorece a articulação entre artistas nos países diferentes numa forma que talvez deveria ser melhor utilizado. Agora quando estamos forçados de comunicar nos meios virtuais com os nossos vizinhos também, deveríamos pensar numa maneira mais ampla e fazer articulações entre países e colaborações entre artistas de mente aberta mais do que estamos fazendo agora. Agora quando o mundo inteiro tem forçado de fechar as suas fronteiras nacionais de forma físico, a arte deveria mostrar o caminho para que possamos lembrar de novo que entre as pessoas e mentes livres não existem fronteiras. Com a arte podemos continuar viajando e construindo pontes.

SP ESCOLA DE TEATRO – Como você acha que a arte vai responder a essa pandemia, artisticamente falando
SANNA – Há duas questões: forma e conteúdo. Do ponto de vista de forma, vão surgir novas inovações no uso dos meios digitais, é claro, mas ao mesmo tempo acho que vai ter uma nova valorização das características específicas do teatro: os processos conjuntos e presenciais, corporalidade, encontros, espaços compartilhados… Como usar os nossos pontos fortes e os nossos recursos nessa situação excepcional, quando há muitas limitações sobre como faríamos as coisas normalmente? As sugestões e soluções diferentes surgindo… No ponto de vista de conteúdo, a arte está exercendo o seu papel fundamental, como sempre, articulando e interpretando o que estamos vivenciando agora, e o seu papel é, talvez, mais importante do que nunca.

SP ESCOLA DE TEATRO – O que tem feito durante o isolamento? tem criado algo?
SANNA – Faço parte de um grupo de teatro itinerante, Saimaa Theatre (Teatro do Lago Saimaa), e estamos agora tentando resolver a questão de como fazer uma turnê de teatro sem poder fazer uma turnê físico – e como fazê-lo sem lidar com os meios de comunicação digitais. Em julho, Saimaa Theatre normalmente passa o mês inteiro viajando de barco nas aldeias pequenas na área de Lago Saimaa, na parte este da Finlândia, levando teatro para lugares que não tem oferta cultural. O público alvo é muito heterogênico, mas principalmente são idosos. Eis o nosso desafio: como atingir o nosso público com muitas pessoas que não usam Instagram, Facebook, YouTube etc. e que muitas vezes moram ou têm as suas casas de campo nos lugares isolados com conexões de internet muito fracos ou até inexistentes. Por isso, temos de lidar por exemplo com radio como o nosso meio principal de fazer a nossa “turnê” – ainda estamos pesquisando sobre as possibilidades. O que já sabemos é que vamos fazer 11 apresentações diferentes, uma para cada aldeia no nosso roteiro, criado especificamente para cada lugar. As conversas com os moradores locais que eu como pesquisadora do grupo vou começar na semana que vem já fazem parte da nossa “turnê remota”: são uma tentativa de alcançar o nosso público e fazer conexões com as pessoas mesmo quando não podemos fazer isso presencialmente. As nossas apresentações personalizadas, criadas a partir das histórias de moradores locais, são pensados como os nossos presentes para os lugares onde queríamos muito visitar neste verão, como todos os verões, mas aonde não podemos viajar nessa situação.

CULTURA EM CASA

Assim como outros equipamentos, a SP Escola de Teatro criou uma programação especial na internet para oferecer ao seus seguidores. Assim, está disponível na página #teatroemcasa uma série de conteúdos multimídia, como vídeos de espetáculos e de palestras e bate-papos de nomes como as atrizes Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg e Denise Fraga, a monja Coen, a escritora Adélia Prado e o pastor Henrique Vieira, além de cursos gratuitos a distância.

O acervo ainda inclui filmes produzidos pela Escola Livre de Audiovisual (ELA) – iniciativa da Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap), gestora da SP Escola de Teatro – em parceria com instituições internacionais, com a Universidade das Artes de Estocolmo (Suécia).

#culturaemcasa #teatroemcasa



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