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Antônio Araújo na SP Escola de Teatro

Publicado em: 24/09/2010 |

Desde seu início, o Teatro da Vertigem emprega forte eixo investigativo e prima pela busca de um teatro construído de forma coletiva e democrática entre atores, dramaturgo e encenador. A pesquisa sobre os processos de interferência na percepção do espectador também é um elemento utilizado no percurso da companhia que se aproveita de espaços não convencionais da cidade para a criação de espetáculos com base no depoimento pessoal da comunidade, o que impulsiona o trabalho do grupo e mantem seu repertório sempre ativo.

Guilherme Bonfanti, coordenador do Curso de Iluminação da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco trabalha no Teatro Vertigem desde a formação do coletivo. Conversando com Antônio Araújo, diretor e fundador do grupo, enxergou a possibilidade de convidá-lo para uma palestra, a fim de mostrar como o Vertigem, que atua há mais de 18 anos em São Paulo, se utiliza do processo colaborativo e da relação com o espaço e a cidade, marcas do teatro épico e tema de estudos dos aprendizes para o Módulo Amarelo, que foca seu eixo temático nesse gênero e seu elemento operador no lugar não edificado para a atividade teatral.

A ideia deu certo. Hoje (23), Antônio Araújo veio até a Escola para mostrar seu ponto de vista sobre o tema, além de falar sobre suas referências e trazer dicas para os aprendizes. “Eu imaginei três momentos para esse encontro: o primeiro, conversar sobre a criação coletiva e o processo colaborativo; em seguida, levantar questões a respeito da relação da cidade com o teatro; e, por fim, abrir um espaço para discussões a partir de perguntas ligadas aos projetos que pretendem realizar no experimento, dessa forma, a troca fica produtiva para todos”, explica Araújo.

Para o diretor, o processo colaborativo e a criação coletiva são termos que podem ter uma ligação tão estreita que suas distinções ficam complicadas. Afinal, como se pensa essa relação? Eles são ou não a mesma coisa? “Se pensarmos no que é discutido sobre criação coletiva, ela passa a ter uma definição problemática. Vejamos as primeiras experiências realizadas na década de 60 e 70, como o Théâtre du Soleil, o grupo colombiano La Candelária, o Asdrúbal Trouxe o Trombone e o Teatro Núcleo Independente, entre outros. Esses grupos são tão heterogêneos e diversos que fica difícil definir esse termo, entre tantas diferentes experiências, mas podemos encontrar dois elementos podem servir de rumo: a ideia da abolição da especialização e a polivalência artística”, afirma.

Antônio Araújo nasceu em Uberaba, Minas Gerais, em 1966, é bacharel em Artes Cênicas (1990), mestre em Teatro (2002) e doutor em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), em 2008. Recebe no ano de 1996, a bolsa de estudos Fellowship of the Americas, concedida pelo The John F. Kennedy Center for the Performing Arts em Washington, EUA. Também realizou a convite do British Council, um programa de residência artística junto ao Royal Court Theater, em Londres (1998).

Seus trabalhos de direção incluem “Aoi”, “Oberosterreich”, “Hiperbórea” e “Clitemnestra” (este último com Marilena Ansaldi). No Teatro da Vertigem, grupo que criou em 1992, dirigiu “O Paraíso Perdido”, na Igreja Santa Ifigênia, “O Livro de Jó”, no Hospital Umberto Primo, e “Apocalipse 1,11”, no Presídio do Hipódromo, configurando, assim, sua “Trilogia Bíblica”. Tais peças representam o Brasil em vários festivais internacionais na Colômbia, Venezuela, Portugal, Alemanha, Dinamarca, Rússia e Polônia. Dirigiu também o espetáculo “BR-3”, apresentado num trecho do Rio Tietê, em São Paulo e na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro, e a ópera “Dido e Enéas”, de H. Purcell, em produção do Teatro Municipal de São Paulo.

Em 1995, ganhou, com o espetáculo “O Livro de Jó” os prêmios de melhor diretor APCA, Mambembe, Shell e Apetesp. Pelo espetáculo “Apocalipse 1,11” recebeu o Prêmio Shell 2000 na categoria de melhor diretor. Por “BR-3”, conquistou o Prêmio Shell 2006 também na mesma categoria. Atualmente, é professor de Direção Teatral no Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP).

Esse projeto de ciclo de palestras que Araújo participou pretende ampliar as discussões acerca do Teatro Épico e a relação do teatro com a cidade para estimular os aprendizes no exercício do experimento, trabalho final para o Módulo Amarelo. Os pesquisadores Ingrid Koudela, Luis Alberto de Abreu, Márcio Aurélio, José Fernando Azevedo, Alexandre Mate, José Simões e Maria Thaís já participaram do ciclo que, a cada semana, recebe um novo convidado.