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Ana Luísa Amaral lança “Vozes”, na Casa das Rosas

Publicado em: 26/06/2013 |

Dica de programa para quem gosta de boa poesia. Hoje (26), a partir das 19h, a Casa das Rosas sedia o lançamento do livro “Vozes” (120 págs., R$ 35), da poeta Ana Luísa Amaral. A obra leva o selo da Editora Iluminuras, de Samuel Leon, que faz parte do conselho da Adaap (Associação dos Artistas Amigos da Praça), órgão responsável pela gestão da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.

O evento na Casa das Rosas não contará apenas com sessão de autógrafos da escritora. Haverá, ainda, leitura de poemas e bate-papo com a poeta Yara Frateschi Vieira (Unicamp), Ana Maria Domingues de Oliveira (Unesp), sob a mediação de Iumna Maria Simon.

Sinopse do livro
Dois poemas circunscrevem o território poético em que transitam os textos deste último volume de Ana Luísa Amaral: o que lhe serve de abertura intitula-se “Silêncios” e o que o fecha, “Vozes”. Assim, no plural, silêncios e vozes remetem-nos, em primeira instância, a experiências concretas na relação miúda e cotidiana com os seres e objetos, lugares e momentos, emoções e afetos, que, não obstante, nos atingem de forma pontual e única / o fio mais afiado que punhal.

A seguir, um dos poemas do livro:

“Inês e Pedro: 40 anos depois”

É tarde. Inês é velha.
Os joanetes de Pedro não o deixam caçar
e passa o dia todo em solene toada:
«Mulher que eu tanto amei, o javali é duro!
Já não há javalis decentes na coutada
e tu perdeste aquela forma ardente de temperar
os grelhados!»

Mas isto Inês nem ouve:
não só o aparelho está mal sintonizado,
mas também vasto é o sono
e o tricot de palavras do marido
escorrega-lhe, dolente, dos joelhos
que outrora eram delícias,
mas que agora
uma artrose tornou tão reticentes.

Inês é velha, hélas,
e Pedro tem caibras no tornozelo esquerdo.
E aquela fantasia peregrina
que o assaltava, em novo
(quando a chama era alta e o calor
ondeava no seu peito),
de ver Inês em esquife,
de ver as suas mãos beijadas por patifes
que a haviam tão vilmente apunhalado:
fantasia somente,
fulgor que ele bem sabe ser doença
de imaginação.

O seu desejo agora
era um bom bife
de javali macio
(e ausente desse horror de derreter
neurónios).

Mais sábia e precavida (sem três dentes
da frente),
Inês come, em sossego,
uma papa de aveia.

Serviço
Lançamento: livro “Vozes”, de Ana Luísa Amaral

Quando: Hoje (26), às 19h
Onde: Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos
Avenida Paulista, 37 – Bela Vista
Tel. (11) 3251-5271

 

Texto: Esther Chaya Levenstein