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A verdade fotográfica

Publicado em: 27/06/2014 |

* por Bob Sousa, especial para o portal da SP Escola de Teatro

 

A câmera é meu instrumento.

Através dela dou uma razão a tudo o que me rodeia.

(André Kertész)

 

É sempre muito intrigante ouvir opiniões sobre as minhas fotografias. Uma mesma imagem pode suscitar diversas opiniões, e muitas delas podem ter nunca atravessado o meu ato fotográfico. Nesses casos, sempre digo que é preciso invadir os “porões da fotografia”.

 

Na fotografia é preciso atravessar as camadas, procurar o negativo no positivo, a imagem latente no fundo do negativo, ir além, através. Uma foto não tem profundidade, não passa de uma superfície e sempre esconde outra, atrás dela, embaixo ou em torno dela. Não acreditar no que se vê. Despertar da consciência da imagem para à consciência do pensamento.

 

Sobre essas “camadas” da imagem fotográfica, o cineasta italiano Michelangelo Antonioni apresenta no filme “Blowup” (1966) um bom exemplo sobre o que se pode considerar verdadeiro e o que sabemos das coisas e da imagem das coisas.

 

No filme um fotógrafo captura imagens de um casal em um parque e em seguida se vê agredido pelos mesmos em busca do filme fotográfico. Ao tentar entender o motivo da agressão o fotógrafo amplia por diversas vezes a imagem em busca de alguma pista ou indício. Logo é surpreendido por um fragmento da imagem que aponta para a figura de um cadáver. Ao voltar ao parque, de fato, encontra o cadáver e sai em busca de um amigo que possa servir de testemunha de sua descoberta. Ao retornarem, não há mais nada, nem ninguém. A partir daí a história acontece em torno da investigação sobre a realidade registrada pela fotografia. 

 

Será uma alucinação? O que se pode considerar verdadeiro na leitura de uma imagem fotográfica? 

 

Desse modo, como afirma Martine Joly, a revelação de uma fotografia potencializa o seu poder de fascínio pela evocação das diversas práticas que ela enseja. De outro e reiterado modo, como escreveu Roland Barthes, contemplamos as fotografias “[…] com a esperança louca e vã de descobrir a verdade”.

 

* Bob Sousa é fotógrafo de teatro e mestrando em Artes Cênicas no Instituto de Artes da Unesp sob a orientação do Prof. Dr. Alexandre Mate.