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A Verdade e a Ficção Explicadas pela Psicanálise

Publicado em: 31/05/2011 |

 

“A verdade é da ordem da ficção”, já disse o psicanalista francês Jacques Lacan. Essa frase contextualiza a Mesa de Discussão que ocorreu ontem (30), na SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco com os convidados: Professora Doutora Ilana Katz, Professora Doutora Marion Minerbo e Professor Doutor José Moura.

 

Ilana foi a primeira da noite a discutir o tema “Verdade e Ficção: Uma Visão Psicanalítica”. Com base nas teorias de Lacan, Ilana disse que “a verdade não é toda acessível ao sujeito”.

 

A psicanalista falou, ainda, sobre enunciado e enunciação. “Enunciado é o que se decide dizer quando se fala, mas, na mesma frase há outra dimensão, a enunciação, que pretende fazer passar para a fala algo da verdade do sujeito. Se isso pode acontecer pela via das formações do inconsciente (sonhos, lapsos, etc.), também se faz valer como um dito velado. Algo da verdade do sujeito se enuncia entre suas palavras, em suas palavras, numa costura outra dos termos que escolhe usar para falar.”

 

Continuando a discussão, a segunda convidada, Marion, disse que o reality show tem apelo porque produz “quilos” de realidade para consumo do espectador. O último reduto de realidade autêntica é a alma de outro ser humano em carne viva. 

 

Marion disse, ainda, que os comentários de quem assiste mostram que valorizam a autenticidade dos jogadores. Isso acontece porque hoje em dia a realidade está travestida de imagens. É difícil distinguir o que é, do que parece. Queremos a realidade nua. Estamos famintos de realidade.

 

Trabalhar a questão da reversibilidade entre verdade e ficção foi o que Moura fez. Segundo ele, testemunhamos corriqueiramente a comutação da verdade em ficção e a comutação da ficção em verdade. “A verdade empunhada pela ciência ou pela opinião corrente assume várias vezes uma forma abstrata ou simplória: retirada do mundo, isolada, quer substituir-se ao mundo, presume saber o mundo sem mais necessidade de vivê-lo e acreditando possuí-lo em ideia. Em contrapartida, a arte, o teatro por exemplo, a dramaturgia, movendo-se em ficção, são todavia capazes de apresentar um mundo bem verossímel. O teatro vive o sentido e o enigma do mundo. O teatro põe cenários, ações e agentes que não são manjados por ideias e que alimentam o espanto do público, o sentimento e o pensamento, alimentam sem parar nossa interrogação e meditação.  Teorias do ciúme não nos levam a compreender Otelo tanto quanto Otelo nos leva a compreender o ciúme.”