EN | ES

A senhora CCP

Publicado em: 28/01/2014 |

* por João Branco, especial para o portal da SP Escola de Teatro

 

Quando, há mais de 20 anos, fui com a minha cara de lata apresentar um projeto de um curso de iniciação teatral e expressão corporal ao Centro Cultural Português do Mindelo, ainda situado no antigo edifício Amarante, estaria longe de imaginar o que isso acarretaria no futuro. No que é mais visível, acabou por provocar uma revolução tranquila – como sempre lhe gostei de chamar – no panorama teatral de S. Vicente, em particular, e de Cabo Verde, em geral.

 

A forma aberta, generosa e simpática como a Ana Cordeiro me recebeu naquela época, continuou a ser até hoje a sua imagem de marca, com uma capacidade diplomática para resolver problemas e envolver toda a comunidade intelectual e artística nas atividades do Centro Cultural Português, e que ainda hoje é das qualidades que mais lhe admiro. 

 

Hoje anunciou formal e publicamente a sua saída do CCP – Pólo do Mindelo por motivos de reforma e eu, como muitos outros, devo estar-lhe grato pelo importante papel que desempenhou na dinamização cultural da cidade do Mindelo a todos os níveis e em todas as áreas da criação. 

 

São-lhe devedores criadores das artes plásticas cujas múltiplas exposições promoveu, com um cuidado que infelizmente ainda hoje é uma raridade por estas bandas. São-lhe devedores músicos que ajudou a promover – não me esqueço que o primeiro concerto de assinalável dimensão que Orlando Pantera deu na cidade do Mindelo foi por iniciativa dela, por exemplo –, fotógrafos a quem deu apoio institucional e material, escritores cujos livros lançou e apresentou, intelectuais que envolveu em iniciativas tão importantes quanto criativas, como por exemplo, as Conversas com Artistas ou, bem recentemente, os fantásticos Passeios com História(s).

 

São-lhe devedores todos os fazedores de teatro, porque com a sua colaboração pessoal e institucional, o Mindelo transformou-se num importante centro de criação cênica, ninho de inúmeros grupos e companhias teatrais, às quais nunca negou apoio, na medida das possibilidades de cada momento.

 

Sou eu, naturalmente, devedor de todo o apoio que sempre me concedeu. Por acreditar e apostar no meu trabalho desde o início, por ter contribuído e acompanhado, de forma solidária e empenhada, o meu crescimento pessoal, profissional e acadêmico, numa relação profissional de mais de 20 anos, cimentada hoje numa sólida amizade. 

 

Obrigado, Ana Cordeiro, tenho a certeza que a cidade do Mindelo e Cabo Verde em geral vai receber muito de ti nos futuros desafios que certamente não faltarão, no tanto que ainda está por fazer.

 

E penso que esta crônica faz todo o sentido também aqui, no portal da SP Escola de Teatro. Para que se saiba que na bela e cultural cidade do Mindelo, vive uma senhora chamada Ana Cordeiro, que foi, durante 26 anos, diretora do Centro Cultural Português desta cidade, e que conseguiu, com poucos meios, uma imensa generosidade e maior criatividade, transformar este centro num dos maiores dinamizadores culturais da ilha e num espaço de criação, por excelência. 

 

*A coluna de João Branco é publicada mensalmente. Clique aqui para ler outras colunas.