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A Marquês de Itu é nossa!

Publicado em: 26/09/2014 |

* por Ivam Cabral, especial para o portal da SP Escola de Teatro

 

A SP Escola de Teatro é um centro de formação de arte, mais especificamente das artes cênicas, das artes do palco, do teatro. Correto? Sim, ela é, grosso modo, isso mesmo. No entanto, há em seu âmago, entre outras tantas noções fundamentais para sua constituição, uma forte identificação com o pensamento do geógrafo Milton Santos (1926-2001), especialmente no que toca a compreensão do território.

 

Seu pensamento, dotado de sensatez e humanidade únicas, apontava para a ideia de que território não é simplesmente a superposição de um conjunto de sistemas naturais. É muito mais que isso: base, residência, espaço de troca. Assim, cidadania e um mundo apartado não combinam, definitivamente. Um espaço comum, impregnado de um sentimento de compaixão e de união para o bem comum era, para ele, a única saída para nos tornarmos cidadãos de fato.

 

Com base em visões como essa estruturamos nosso sonho. Por isso, há, na SP Escola de Teatro, muito mais que teatro. Há uma busca pela transformação radical do mundo, uma missão (quase) utópica de humanização e formação de artistas dotados de olhar crítico e solidariedade. É disso que a arte se trata, afinal.

 

Já contei por aqui que estamos de casa nova, na Rua Marquês de Itu, a poucos minutos da Praça Roosevelt e do Ateliê, nossas duas outras unidades. A sede Marquês foi inaugurada há pouco mais de um mês, e já está funcionando a todo vapor.

 

Tem sido incrível estar por aqui, em nossa nova casa, e o nosso pessoal parece estar bastante empolgado com o novo espaço, que já está sediando até cursos de Extensão Cultural. É o caso de alguns cursos de circo, que se apropriaram de nosso subsolo, que na planta original era um estacionamento. Vejam só: um estacionamento, lugar frio, escuro, cinza, ressignificado, tornando-se espaço de arte!

 

Qualquer artista sabe o quanto isso é bonito e simbólico para a arte e para a cultura nestes tempos confusos.

 

Um pouco acima, no andar térreo, ao lado da Pedagogia, que se mantém sempre pensante e provocadora, um dos terrenos que mais me agrada: nossa Biblioteca, que, antes dividida em duas, foi integralmente transferida para a nova sede. Reside ali parte significativa de nossa esperança em uma educação solidária e rigorosa.

 

Aberta ao público, formam seu acervo, atualmente, cerca de 7 mil exemplares entre livros, revistas, jornais, monografias, DVDs e CDs, além de equipamentos para consulta aos multimeios, computadores com acesso à internet e sistema automatizado de catalogação.

 

Acima, no primeiro andar, é onde as coisas acontecem para os aprendizes, com as salas de aula, estruturadas com divisórias em drywall. As aulas acontecem lado a lado, num plano físico horizontal, propiciando um encontro saudável entre aprendizes e formadores.

 

Tudo que acontece dentro de nossas instalações é lindo. Mas hoje, como eterno discípulo de Milton Santos, foco minha reflexão no que se instaura fora dos portões da Escola. Também já falei aqui sobre a situação da Rua Marquês de Itu, que pela noite, como a antiga Praça Roosevelt, é apagada, sombria e ainda assusta as pessoas.

 

Como fizemos com o Brás e com a Roosevelt, acrescentando grandes doses de arte e cultura, vamos colorindo e iluminando, pouco a pouco, esse ambiente. Isso eu posso garantir: faremos nosso papel como cidadãos, até o fim, porque esse espaço também é nosso, e, como tal, pode muito bem ser palco para nossos sonhos mais grandiosos.