
Marjorie Gerardi, por Bob Sousa
Com 20 anos de carreira, Marjorie Gerardi se destaca como uma artista inquieta e multifacetada. Atriz, bailarina, produtora e empreendedora, ela transita com naturalidade entre os palcos, os sets de filmagem e o universo da gestão educacional. Em 2025, Marjorie celebra uma fase especialmente intensa, com estreias no cinema e no teatro, incluindo a nova montagem do espetáculo Closer, no qual, além de atuar, é responsável pela idealização e produção. Sempre em movimento, ela também encontra tempo para se dedicar à administração das faculdades da família, reafirmando seu compromisso com a educação e o desenvolvimento social. Nesta entrevista, Marjorie compartilha reflexões sobre sua trajetória, seus desafios e a pluralidade de suas paixões.
Bob Sousa – Ao longo de sua trajetória, você construiu uma carreira marcada pela diversidade de linguagens e projetos. Como você equilibra e conecta suas experiências como atriz, produtora e gestora educacional, e de que forma esses universos dialogam entre si?
Marjorie Gerardi – Eu sempre enxerguei minha trajetória de forma muito orgânica. Pra mim, tudo parte da mesma raiz: o desejo de comunicar, de transformar e de provocar reflexões. A atuação, a produção e a gestão educacional não são caixas separadas — elas se retroalimentam o tempo todo. Quando estou em cena, trago comigo todo o olhar de quem também pensa nos bastidores, na sustentabilidade dos projetos, na formação de público. E, como gestora educacional, carrego o entendimento de que a educação, assim como a arte, é um agente potente de transformação. Conciliar esses papéis exige muita organização, mas, acima de tudo, muita paixão. E talvez seja justamente essa paixão que me permite transitar com verdade por esses diferentes universos.
Bob Sousa – No espetáculo Closer, além de interpretar a personagem Anna, você também esteve envolvida diretamente na idealização e produção do projeto. O que te motivou a trazer essa montagem ao público brasileiro e como foi o processo de adaptação e construção dessa versão tão particular e contemporânea?
Marjorie Gerardi – Closer sempre foi uma obra que me atravessou muito — pela complexidade das relações humanas, pela crueza com que fala de amor, desejo, mentira e solidão. Por ter sido uma peça que fez tanto sucesso e que virou um filme icônico. Tudo isso me brilhava muito os olhos. Quando eu percebi que os temas da peça continuam extremamente atuais, senti uma urgência de trazer essa história de volta, mas de uma forma que dialogasse diretamente com o nosso tempo, com os nossos dilemas contemporâneos. O processo foi desafiador, porque, além da atuação, estive mergulhada na produção, na escolha do elenco, na compra dos direitos autorais, aí para o restante me juntei com outras pessoas e fizemos o resto. É sempre difícil ser respeitada no mercado, ainda mais sendo mulher e atriz que quer produzir. Não foi um projeto fácil dentro dos bastidores, mas sempre penso que coisas boas levam tempo e dão trabalho. Quando eu tive a ideia, quando eu corri atrás de tudo para fazer acontecer, foi quase um milagre, mas tive que lidar com egos que até agora não entenderam que teatro e arte se fazem em conjunto e não sozinho. Tudo foi pensado para que o público não apenas assistisse, mas se sentisse espelhado, desconfortado, provocado. É uma versão que traz uma estética muito limpa, quase fria, que potencializa o desconforto das relações. E isso, pra mim, é uma das grandes potências do teatro: ser espelho, mas também ser cutucão.
Bob Sousa – Seu trabalho no cinema, no teatro e na gestão educacional evidencia um olhar atento às transformações culturais e sociais. Como você enxerga a importância da arte e da educação como forças complementares na formação das pessoas e na construção de futuros mais sensíveis e inclusivos?
Marjorie Gerardi – Eu acredito profundamente que arte e educação caminham lado a lado na construção de um mundo mais sensível, mais empático e, principalmente, mais justo. A educação sem sensibilidade corre o risco de ser apenas transmissão de conteúdo. E a arte sem reflexão também perde potência. Quando essas duas forças se encontram, elas formam indivíduos mais críticos, mais conscientes de seu papel no mundo e mais preparados para lidar com a diversidade, com as diferenças, com as complexidades da vida. Meu trabalho, tanto no palco quanto na gestão educacional, é movido por esse propósito: colaborar, de alguma maneira, para formar não só profissionais, mas cidadãos que pensem, sintam e atuem no mundo de forma mais humanizada.