Alexandre Rosa e Ney Piacentini no espetáculo Infância, baseado na obra de Graciliano Ramos, durante temporada na SP Escola de Teatro – Foto: Edson Lopes Jr.
O ator Ney Piacentini é um dos nomes mais importantes do teatro brasileiro contemporâneo.
Fundadores da célebre Cia. do Latão e ex-presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, ele tem papel crucial nos bastidores da profissionalização artística e da luta pela manutenção do teatro de grupo na cidade, além de ter feito história com a Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo, que fez dez edições de sucesso de público e de crítica e, infelizmente, não é mais realizada por falta de patrocínio e apoio. Um absurdo.
Bom, mas, aguerrido que é, Ney Piacentini não esmorece.
O nosso inquieto ator resolveu homenagear um grande nome de nossa literatura, o romancista alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), no espetáculo Infância.
Apesar de oficialmente um solo, na realidade trata-se de um duo, no qual Ney está o tempo todo em cena ao lado do músico virtuoso músico Alexandre Rosa, um dos nomes de peso da Osesp, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.
Atuação e música se unem de modo formidável às memórias sertanejas do menino Graciliano, criando cenas de forte impacto emotivo junto ao público.
A cena na qual o personagem lembra a violência do castigo paterno, base da sociede patriarcal como conhecemos, é uma verdeira pérola poética de sensibilidade.
Como não poderia deixar de ser, o espetáculo fez uma bem sucedida temporada de dois meses, em parceria com a Extensão Cultural e Projetos Especiais da SP Escola de Teatro, na Sala Hilda Hilst, localizada no oitavo andar da Unidade Roosevelt da instituição.
O público foi chegando no boca a boca, ávido por descobrir um espetáculo sofisticado e sutil.
Passaram pela plateia grandes nomes dos palcos e bastidores, além de leitores nostálgicos da boa literatura graciliana e nomes que se aproximaram pela primeira vez de seu texto.
Encerrada esta temorada de sucesso na semana passada, Infância merece novas temporadas e também novas turnês pelo Brasil, sobretudo pelos interiores e pelo Nordeste, porque é uma verdadeira aula de como a excelente literatura pode ficar ainda mais potente quando levada ao palco, unindo três grandes artes: literatura, teatro e música.
Parabéns, Ney Piacentini, por seguir em defesa da arte.
*Miguel Arcanjo Prado é Coordenador de Extensão Cultural e Projetos Especiais da SP Escola de Teatro. Jornalista formado pela UFMG, é especialista em Mídia, Informação e Cultura pela ECA-USP e mestre em Artes pela UNESP. É crítico da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), da qual foi vice-presidente. Dirige o Blog do Arcanjo e o Prêmio Arcanjo de Cultura, além de fazer o Arcanjo Pod. @miguel.arcanjo