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Como se constroem os sonhos…

Publicado em: 02/10/2017 |

Um sonho é apenas um sonho? Ou um sonho pode ser, além de um desejo, uma possibilidade? Ou, ainda, nossos quereres podem ser transformados em atividade concreta? Não tenho respostas, de pronto.

Quando estudava teatro em Curitiba, nos anos 1980, tive uma professora singular: Myriam Muniz. Lembro-me do nosso primeiro encontro e de suas palavras: “o ator tem que conviver com os opostos, a cabeça nas nuvens e os pés bem aterrados no chão”. Acho que descobri, aí, o segredo de conviver e transitar com as instabilidades da vida.

A partir daquele dia, cabeça na nuvens e pés aterrados me revelavam que sonho e realidade caminhariam juntos em meu trajeto pelo teatro e pela vida.

Fui convidado para uma visita à Polônia, no início do ano. O convite veio do Departamento de Cultura de Marshal, através do programa “Wake up – call for culture”, cofinanciado pela União Europeia, onde fomos apresentados às performances do Nowy Theater, Theater of the Eighth Day, Great Theatre e da Poznań Philharmonic Orchestra. Uma visita que poderia ter sido apenas uns dias na região de Wielkopolska para conhecer sua cultura e seus equipamentos culturais. Uma comitiva formada por representantes ilustres de vários países, da Juilliard, de Nova York, inclusive.

E, vejam só, como se o simples contato com tanta gente de tantos lugares não consistisse, por si só, num escambo cultural potente e vigoroso, fomos mais além: o resultado dessa visita foi um intercâmbio incrível, estendido a nossos aprendizes – eles, que, afinal, são os grandes responsáveis pela existência da Escola.

Assim, depois da vaga de intercâmbio para Cabo Verde, nosso Programa Kairós chegou à Polônia. Abrimos duas vagas para aprendizes de Direção e Cenografia e Figurino interessados em realizar a montagem de um espetáculo no país, em uma parceria com o Teatro Fredry (Teatr im. Aleksandra Fredry w Gnieznie), que cedeu seus atores e técnicos locais e escolheu um texto dramatúrgico para a encenação.

Os candidatos passaram por duas fases de um rigoroso processo seletivo. Na primeira, foram selecionados dois diretores e dois cenógrafos por meio de análise da documentação solicitada e de entrevista. Estes pré-selecionados, na segunda fase, desenvolveram processos de experimentação que foram avaliados pela comissão do Programa de Intercâmbio.

Depois disso, Aline Cristina da Silva (Direção) e Felipe Eduardo de Oliveira (Cenografia e Figurino) conquistaram as almejadas vagas e estão na Polônia, trabalhando com uma companhia profissional. E com despesas referentes à alimentação, alojamento, passagem aérea (ida e volta) e seguro-viagem custeadas pelo Programa de Intercâmbio.

O teatro polonês, por sua vez, está sendo muito acolhedor com nossos aprendizes. Lá eles têm à sua disposição um apartamento, um escritório exclusivo, costureiras, cenotécnicos, um diretor de palco, e um elenco competente, segundo nossos intercambistas reportaram.

A montagem em que eles estão trabalhando estreará em dezembro. Trata-se do texto “A confissão de um masoquista (ou Labirinto do mundo e o paraíso do chicote)”, do dramaturgo checo Roman Sikora.

Acontece que, para nosso orgulho ser ainda maior, o intercâmbio prevê também uma montagem aqui no Brasil. Assim, os dois trabalhos terão estreia simultânea, no dia 19 de dezembro. Brasil e Polônia unidos em sintonia!

A versão brasileira, desenvolvida pelas aprendizes Adriana Lobo Martins (Direção) e Márcia Pires (Cenografia e Figurino), fará uma primeira temporada de 19 a 21 de dezembro, na Sede Roosevelt da Escola, juntamente com a programação dos outros teatros da Praça. Para esta curta temporada, selecionamos entre nossos aprendizes, egressos e atuais, atores, iluminadores, sonoplasta e cenotécnicos.

Na certeza de que não há, no mundo, escola que faça isso, fico eu, aqui, observando nossa Escola e nossos aprendizes crescendo mutuamente, subindo degraus e vislumbrando novos horizontes. Seguramente, as oportunidades que estamos gerando darão frutos lindos.