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Papo de Teatro com Mauro Júnior

Publicado em: 01/10/2012 |

Mauro Júnior é diretor, ator, iluminador e arte-educador

Como surgiu o seu amor pelo teatro?
 Aos 9 anos. Sou natural de Franca, interior de São Paulo. Nos anos 1990, o teatro amador na cidade era bastante efervescente. Meu irmão mais velho fazia parte de um grupo de jovens atores. Conheci o teatro pelas pistas deixadas por ele, pois ao chegar a nossa casa, dizia suas falas, fazia caras e bocas e aquilo me atraía. Ficava de canto, de soslaio, não me atrevia a interrompê-lo, tamanha sua concentração, entrega. E a magia que se instaurava no momento poderia se desfazer… Mas sua sensibilidade o fez perceber que, de fato, eu estava atraído por tudo aquilo. Até que um dia fui levado por ele para o grupo e, ali, aos 9 anos, descobri meu amor pelo teatro e pelo que viria a ser meu ofício.

Lembra da primeira peça a que assistiu? Como foi?
Indizível. Adoraria traduzir em palavras, mas seria reduzir a sensação que está em mim até hoje. Por isso, sou criador, para, em cada trabalho, poder traduzir, em imagens, atmosferas e emoção, tudo aquilo que senti.

Um espetáculo que mudou o seu modo de ver teatro foi…
Pobre Super-Homem”, de Brad Fraser, com direção de Sérgio Ferrara. Uma encenação minimalista e delicada, uma trilha inesquecível e um elenco arrebatador.

Você teve algum padrinho no teatro?
Definitivamente, não!

Já saiu no meio de um espetáculo?
Sim, recentemente. Talvez não estivesse pronto para tal…

Teatro ou cinema?
Não vivo sem os dois. O cinema, hoje, é a arte que mais tem me tirado os pés do chão, feito com que viagens inteiras sejam realizadas sem sair do lugar. Muitas das minhas referências e inspirações estão atreladas à sétima arte e sua feitura. Mas é no teatro que vou para me reencontrar, trazer de volta meus pés ao chão.

Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?  
Acho que a clássica montagem de “O Balcão”, de Jean Genet, com direção de Victor García. Pela ruptura do espaço, pela ousadia da encenação, pelo time reunido, pela hiperatividade artística do projeto. Sempre fiquei me imaginando naquele cenário vertical…

Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro?
Nelson Rodrigues e Samuel Beckett. Para mim, não há distinção entre os dois. São gênios da escrita cênica. Está para além do verbo. Ambos escrevem para a materialidade cênica e recriam a linguagem.

Qual companhia brasileira você mais admira?
Sutil Companhia de Teatro, Armazém Companhia de Teatro, Companhia Brasileira de Teatro.

Existe um artista ou grupo de teatro que você acompanhe todos os trabalhos?
Sutil Companhia de Teatro, Armazém Companhia de Teatro, Companhia Brasileira de Teatro.

Qual gênero teatral você mais aprecia?
Ainda se fala em gênero? Não sei… Se há gênero, que seja o gênero do teatro de qualidade, bem feito, intenso e único.

Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Um texto medíocre pode ser salvo pela encenação.
 
Cite uma Iluminação surpreendente.
A luz de Beto Bruel para “Não Sobre o Amor”.

Cite um cenário surpreendente.

O c
enário de Daniela Thomas para “Não Sobre o Amor”.

O que não é teatro?
Aquilo que num tablado, ou seja lá que espaço for, não causar arrepio, desejo, espanto, horror, surpresa, delírio, êxtase, ódio e paixão. Se não me tira os pés do chão ou não me enraíza de vez, então não cumpriu sua função!

A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
Sinceramente, por que não? Se bem feito…

Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?
O teatro será sempre o lugar do não-lugar, da construção da ilusão pela verdade falseada. Será o que sempre foi e ainda é: um elogio ao humano, de intensidade única.

Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro?
Samuel Beckett, Nelson Rodrigues, Valère Novarina, Bernard-Marie Koltès, Michel Vinaver e muita literatura para transformá-la em dramaturgia.

Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira.
Diretor: Paulo de Moraes. Autor: Valère Novarina. Ator: Osmar Prado. Atriz: Juliana Galdino.

Qual o papel da sua vida?
Poderia considerar essa pergunta como ator e respondê-la como tal, mas hoje meu papel é multiplicar conhecimento. É gratificante poder provocar a reflexão ou descortinar um mundo até então desconhecido para aqueles que têm sede de informação e saber.

Uma pergunta para William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Bertold Brecht ou algum outro autor ou personalidade teatral que você admire.
Não perguntaria, mas exclamaria, com um sorriso: “Ei, Artaud! De certa forma, você conseguiu!”.

O teatro está vivo? 
Mais do que nunca! Sempre se fala de uma tal crise do teatro… Acho tudo isso uma besteira! O teatro segue vivo e sempre estará assim!