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Poeta e atriz, Jô Freitas ecoa em si o poder das palavras

Publicado em: 19/03/2018 |

Foto: Antonio Henrique Ribeiro/Reprodução

JONAS LÍRIO

“Trabalhar o cômico nas palavras é possibilitar o suspiro entalado que carregamos. Brinco com algumas palavras, assim como brinco com o humor.” Para a atriz e poeta Jô Freitas, dona da frase que abre o texto, poesia e humor não estão tão distantes quanto pode parecer. “Ambas podem ser alertas de consciência para a sociedade”, diz ela — que, buscando conciliar essas linguagens, entrou para o curso de Humor da SP Escola de Teatro, em 2012.

Por acreditar que a rua é o espaço mais democrático da arte, é para lá que a artista busca levar seu trabalho. Jô se diz “cenopoeta”, termo que ela define como uma conjunção de seu universo performático, que envolve teatro, poesia e dança.

Em 2014, por iniciativa própria, ela começou a organizar apresentações de teatro em um terreno baldio na sua vizinhança no Itaim Paulista, na zona leste de São Paulo. O projeto encontrou apoio em outras mulheres artistas, que se uniram a Jô para fundar o Sarau Pretas Peri, grupo de mulheres negras e periféricas que cria intervenções poéticas naquela região. Além de coordenar e integrar o grupo, Jô é poeta residente do Sarau das Pretas, cuja proposta de resistência com arte de rua é similar à do Pretas Peri. “Pra mim, fazer parte desses coletivos me fortalece e me diz que estou no caminho certo”.

 

Imagens da série ‘Causando na Rua’

Com o trabalho que desenvolve, ela já visitou lugares como Equador e Peru, onde realizou seu projeto solo “Mulheres em Travessia”, em que colhe histórias de mulheres que possuem vivências de migração. Nordestina nascida em Paulo Afonso, Bahia, essa questão está sempre presente em suas criações. “Tive que sair de lá com 5 anos, por uma questão social e de sobrevivência. É triste não ter mais meu sotaque forte, não estar mais lá. E essa é a condição de muitas pessoas, não só minha.”

No teatro, Jô Freitas integra a companhia Trova 8, formada por aprendizes egressos da SP Escola de Teatro. Em paralelo, chegou a gravar o filme “Sequestro Relâmpago”, de Tata Amaral, com estreia prevista para o segundo semestre de 2018. Na arte, seja o teatro ou a poesia, Jô busca força para não cessar a luta por igualdade e respeito. “Hoje, como mulher preta periférica que lhe teve a arte negada, seja por falta de acesso e até referência, estou sempre me fortalecendo. Tenho e vejo o poder das palavras ecoando por mim”, garante.

Sempre nordestina, por Jô Freitas

Senti nos passos
Ardente calor do sol
Pequena menina de travessia longa
Buscava em retinas
O além do rachar da seca
Sertão que expulsa vidas
Deixou enterrado um coração nordestino

Sertão, ilusão para turistas

Quando eu nascer de novo
Nascerei nordestina
De sotaque porreta
De cor preta
Se por engano eu nascer de novo
Que tenha um sertão menos dolorida
Mais fértil

Se na transa dos amores eu ser fecundada de novo
Que eu nasça do lado de lá
Onde o povo diz oxi
E rapadura serve pra amolar os dentes de criança aperreada

Peço que o rio desague lá mais vezes
Mas, peço que venha branda
Não como a chuva que não se basta
Arrasta

Que são Francisco seja força padroeira
Como o rio que a correnteza leva
Seja leve
Se essa correnteza me der a vida
Serei sempre
NORDESTINA




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