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Ponto | Dividindo o Palco com Fantasmas

Publicado em: 13/12/2011 |

Eles estão no cinema, na literatura e, claro, no palco. Às vezes são brincalhões, outras, assustadores. Há quem diga que são só lendas e há quem jure que eles existem de fato. Pelo sim ou pelo não, os fantasmas que rondam os teatros rendem sempre boas conversas. No Ponto de hoje, vamos contar algumas delas.

 

O caso mais emblemático, no País, é o espancamento dos atores no andar subterrâneo do Teatro Ruth Escobar (SP), em 1968. O Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadiu o teatro e feriu todos do elenco da peça “Roda Viva”, alguns gravemente. Após esse acontecimento, muitos atores não gostam de se apresentar no local. Dizem que há assombrações que carregam o ambiente de energia negativa.

 

No nordeste, especificamente no Teatro Santa Roza, na Paraíba, funcionários antigos do local contam diversas histórias de instrumentos que tocaram sozinhos, fortes barulhos no palco e até aparições de imagens de pessoas que já morreram. 

 

Embora muitos não acreditem, os mistérios existem e são contados frequentemente pelos que trabalham nos espaços cênicos. No Teatro Municipal do Rio de Janeiro não é diferente. Os espíritos de uma ex-bailarina, que teria morrido em frente ao prédio, no dia de sua formatura, e do poeta Olavo Bilac, que fez um discurso na inauguração do teatro, em 1909, foram “vistos” vagando pelas dependências do teatro por muitos funcionários.

 

Os contos, muitas vezes, são tão verídicos que são retratados em livros e até em filmes. É o caso de outra bailarina que era vista no Theatro José de Alencar, em Fortaleza. A escritora Socorro Alcioli se interessou pelo “causo” e decidiu frequentar o teatro, à noite, para “sentir” a presença da bailarina. A partir das informações que conseguiu, escreveu o livro “A Bailarina Fantasma”, que inspirou, por sua vez, o diretor de cinema Glauber Filho a fazer uma adaptação para o cinema. 

 

No Teatro Amazonas também ocorrem fatos que deixam tanto o público quanto os artistas, no mínimo, intrigados. Em 2009, o cantor Edson Cordeiro fez uma série de apresentações no local. Dizem que a sala estava sempre lotada, exceto pela poltrona de número 13, que tinha sido reservada para todas as apresentações, mas em nenhuma delas esteve ocupada.

 

Nem todo mundo, porém, tem medo de fantasmas. Há quem até leve na brincadeira as suas possíveis aparições. A bailarina Ana Botafogo, em entrevista ao G1, brinca com o fato. “Parece que há alguns fantasmas por aí. Eu nunca vi. Mas isso não me assusta. Os fantasmas acabam gostando quando dançamos. Eles devem vir para assistir e, então, não nos assustam. Só quando o teatro está muito silencioso é que eles resolvem se apresentar.”

 

Na América do Sul, ainda há casos de assombrações em diversos teatros de Buenos Aires (Argentina), como o Teatro Nacional Cervantes, o Lola Membrieves e o Broadway. Em Londres, o Royal Drury Lane, o teatro mais antigo da cidade – que data de 1812 –, guarda muitas histórias de fantasmas que rodeiam seus bastidores.

 

Lá, dizem, vive o fantasma do pai do clown moderno, Joseph Grimaldi (1778-1837). Segundo relatos, o artista fez um pedido antes de morrer: que sua cabeça fosse separada de seu corpo na hora do enterro. Coincidentemente – ou não –, funcionários e atores afirmam ter visto um vulto sem cabeça.

 

Fachada do Theatre Royal Drury Lane, o antigo teatro de Londres que detém o fantasma mais famoso do país inglês. (Foto: Divulgação)

 

O fantasma mais famoso do teatro, no entanto, é o Man in Grey (Homem de Cinza), que sempre aparece entre as 10h e as 16h, vestido com um traje cinza e um chapéu de três pontas, similar àqueles usados pelos Lords ingleses no século 18. Sua aparição foi testemunhada por mais da metade do elenco de “The Dancing Years”, que se reunia para uma foto, quando o espectro apareceu, cruzou a plateia superior e desapareceu. 

 

Diante de tantos relatos como estes, existe uma “ferramenta” utilizada para espantar estes seres que aparecem e, muitas vezes, assustam quem os vê: é a ghost light (luz fantasma). Em sua pura definição, a luz, localizada ao lado esquerdo do palco, é acesa quando todas as outras estão apagadas, evitando, principalmente, que os atores caiam do palco, pisem ou tropecem em adereços.

 

Entretanto, com base em algumas superstições, as ghost lights são usadas para manter os fantasmas longe do palco. Além disso, dizem que ter, ao menos, uma luz acesa espanta a má sorte e a tristeza.

 

Enfim, se eles, os fantasmas, existem e se “frequentam” os mais diversos teatros ao redor do mundo ou não, o que não se pode negar é que ajudam a construir a história de cada palco.

 

 

Texto: Jéssika Lopes

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