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SP Escola de Teatro: a fábrica onde a arte respira

por Ivam Cabral, diretor-executivo da SP Escola de Teatro

A SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco nunca foi apenas uma escola. É um organismo vivo, uma usina pulsante onde a criação se renova como quem reencontra o próprio fôlego. Ao atravessar seus corredores, há sempre algo nascendo. Uma ideia, um gesto, um lampejo de coragem. Talvez seja por isso que, a cada semestre, pareça que o mundo recomeça ali dentro.

Pelo menos três vezes por semestre, a maioria dos nossos estudantes erguem pequenas tempestades em forma de cena – em algumas áreas, duas. São três mergulhos distintos, cada um com sua vertigem e sua descoberta. E no centro dessa engrenagem, o que chamamos de Experimentos, esse motor antigo e sempre novo do nosso projeto pedagógico. É neles que todos se encontram: atuação, direção, cenário, figurinos, dramaturgia, humor, iluminação, som e técnicas de palco. Oito linhas, mas um só coração. A cada abertura pública, é como se a escola virasse uma praça onde tudo pode acontecer.

E não basta. Porque, além dos experimentos, há ainda dois outros rios correndo subterraneamente: as microcenas –impulsionadas pelos estudantes de direção, em diálogo com atuação e humor – e o projeto singular das demais áreas (cenário, figurinos, dramaturgia, iluminação, som e técnicas de palco). Processos que só a juventude é capaz de inventar: intensos, às vezes imperfeitos, mas sempre luminosos.

Mas, neste semestre, o pessoal de atuação se deslocou. Ontem, assistimos a uma pequena revolução – daquelas que só acontecem quando a escuta encontra a invenção – sendo apresentada ao público. A formadora Andreas Mendes, provocada pela proposta de Hugo Possolo, coordenador da linha de estudo, puxou o fio de uma ideia bonita: pedir aos estudantes a recriação das cenas que apresentaram no processo seletivo, quando bateram na porta da escola pela primeira vez. Vimos, então, essas cenas renascidas. Como se o passado tivesse sido convocado para um ato de maturidade. O que antes era promessa virou presença. O que era ensaio virou vida.

Ali, no meio de autores como Brecht, Ionesco, Fernando Fernandes e tantos outros, qual não foi minha surpresa quando, quase no finzinho do espetáculo, a estudante Iolanda Souza surgiu em cena e começou a dizer um texto que, por alguns segundos, eu não reconheci. Ouvi as palavras, estranhei o ritmo, e só depois de um leve atraso do coração compreendi: era Pessoas Perfeitas, a peça que escrevi com Rodolfo García Vázquez.

De repente, ali diante de mim, Iolanda era Cacilda – aquela mesma Cacilda eternizada por Fernanda D’Umbra – sentada num café no centro da cidade, confessando que voltava ali todas as semanas na esperança de reencontrar o filho que não via há tantos anos, porque soubera, um dia, que ele trabalhava por aquelas bandas.

E, nesse instante, senti meu coração se encher de ternura. Eu não esperava me encontrar no palco, e, no entanto, ali estava. Devolvido a mim pela voz de uma estudante tão jovem quanto luminosa.

Experimento II do grupo N3 Amarelo, do segundo semestre de 2025, na SP Escola de Teatro. | Foto: Clara Silva.

E é impossível não se emocionar. Porque, ao assistir cada um deles, a sensação é sempre a mesma. Que atores extraordinários estão sendo moldados ali, entre nossas paredes e nossas utopias! O orgulho, nesse momento, não é um sentimento. É uma respiração. Uma confirmação íntima de que a arte ainda encontra terreno fértil quando há entrega, risco e desejo.

No fim das contas, a SP Escola de Teatro é isso. Uma fábrica onde se aprende a construir mundos. Onde cada semestre recomeça o ofício de acreditar. Onde ser artista não é destino. É trabalho, é suor, é delicadeza. E, acima de tudo, é essa alegria quase indizível de ver florescer aquilo que um dia chegou tímido, em forma de sonho. Hoje, minha esperança não apenas ganhou corpo: ela me olhou de volta.

+ Veja como foram os Experimentos II dos estudantes da SP Escola de Teatro

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