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Teatro Épico Visto de Perto

Publicado em: 10/08/2010 |

Realizado no último sábado (7), o primeiro Território Cultural do Módulo Amarelo recebeu o diretor José Fernando de Azevedo, um dos fundadores do Teatro de Narradores e professor da Escola de Comunicação e Arte da USP (ECA/USP), para debater, com os aprendizes, questões sobre o teatro épico. O encontro teve como ponto de partida o filme “Dogville”, do diretor dinamarquês Lars von Trier.

 

“O épico convida o público para pensar junto com a história e privilegia o julgamento do espectador, tratando-o como indivíduo e não como massa. A ficção é uma das melhores formas de se descobrir a realidade e neste gênero teatral, a última descoberta é da própria plateia”, afirma Azevedo.

 

Filmado em um galpão vazio, o que mais chama a atenção no filme é a atmosfera teatral, com cenários simples, luz artificial e uso de um narrador onisciente, que também é personagem da trama. Além disso, ele faz o uso de legendas, que instaura uma organização do autor dentro da narrativa. Esses recursos são artimanhas usadas pelo diretor para que o público não se esqueça que está assistindo a uma obra de ficção.

 

Durante a palestra, Azevedo falou sobre a sabotagem que o cineasta fez com a percepção usual. “A nossa visão de mundo é cinematográfica e americana. Os Estados Unidos transformou o cinema em algo maior que o cotidiano. Ao sabotar a realidade em ‘Dogville’, o diretor multiplica a noção do real e provoca o distanciamento. Dessa forma, ele coloca o espectador no jogo da história e entrega a ele o poder de julgamento da trama”, disse.

 

Grace, filha de um gângster, é a personagem principal do filme. Interpretada pela atriz Nicole Kidman, ela é recebida no vilarejo de Dogville como santa e, no final, é torturada por todos. Nesse momento, ela tem um estalo e percebe que sua única saída é voltar a ser criminosa.

 

“Entre as inúmeras leituras possíveis dessa obra, podemos destacar a relação com o teatro épico, mais precisamente com vários elementos do teatro de Bertolt Brecht”, afirma Joaquim Gama, coordenador Pedagógico da SP Escola de Teatro. “O cineasta subverte a linguagem cinematográfica, por intermédio de cenários imaginários, por enquadramentos não convencionais e alterações de luz e cor para indicar mudanças temporais e de clímax.”

 

Para William Carioca, aprendiz de Técnicas de Palco, o debate do Território Cultural abriu caminhos antes inimagináveis. “O cenário pode ser uma mediação entre a história narrada e o contexto ideológico do espetáculo. Sugestionar uma ambientação por meio da cenotecnia, por exemplo, pode ser mais poderoso do que a mera ilustração literal do espaço da narrativa. Esse é o aprendizado que vou levar para o meu dia a dia depois do debate”, finaliza.