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Daniel Veiga, artista parceiro da SP Escola de Teatro, é indicado na 33ª edição do Prêmio Shell, pelo coletivo CATS; confira a entrevista!

Daniel Veiga | Foto: Juliana Veiga

Daniel Veiga, estudante egresso do curso de Dramaturgia e artista parceiro da SP Escola de Teatro, concorre ao Prêmio Shell de Teatro de 2023, com o CATS (Coletivo de Artistas Transmasculines), na categoria Energia Que Vem da Gente, pela pesquisa histórica e ações de visibilidade e inclusão dos artistas transmasculines no Brasil.

Além de ser dramaturgo, ele também é roteirista, ator, diretor e docente de teatro. Em 2020, foi premiado pelo Kikito de Ouro na categoria melhor ator, pelo curta-metragem Você Tem Olhos Tristes, de Diogo Leite. No mesmo ano, desenvolveu o roteiro da Ocupação Lima Duarte, no Itaú Cultural.

Confira como foi o lançamento do livro Frestas Poéticas, na sede Roosevelt da SP Escola de Teatro, com a presença ilustre de Fernanda Amaral

Neste ano de 2023, por ser um dos cofundadores do CATS, juntamente com Leo Moreira Sá, também estudante egresso da SP, o artista está concorrendo a um dos mais prestigiados prêmios de teatro. O coletivo foi criado para a comunidade transmaculina e com o objetivo de se autorepresentar ao invés de estar dentro de grupos mistos de maioria transfeminina.

Em sua passagem pela SP Escola de Teatro, Veiga além de ter sido estudante, também colaborou como artista docente convidado na linha de pesquisa de Dramaturgia.

Confira a entrevista na íntegra:

Por ser o cofundador do CATS ao lado de Leo Moreira Sá, como você recebeu a notícia de estar na lista dos indicados do Prêmio Shell 2023?

Com muita alegria e alguma surpresa. Uma de nossas lutas mais difíceis é contra a invisibilização pela qual corpos transmasculinos passam sistematicamente. Jamais imaginaria ver o CATS indicado a um prêmio desta importância, justamente porque somos pouco vistos e ouvidos, apesar do tamanho gigante de nossa luta.

Qual é o impacto dessa indicação para você?

É um impacto imenso, justamente porque considero nossa segunda grande vitória. A primeira foi nosso nascimento, ter ajudado a formar um coletivo com mais de setenta artistas transmasculines de todo o Brasil e de múltiplas linguagens artísticas. Esse é o reconhecimento da própria comunidade de artistas transmasculines e isso é histórico. Agora, com essa indicação, começamos a romper a bolha e ser reconhecidos para além de nossa comunidade. Artistas e produtores cisgêneros de todo o país saberão que existe uma comunidade transmasculina fortemente atuante nas mais diversas linguagens artísticas por todo o país.

Conte-nos como foi a fundação do coletivo e o seu papel dentro dela.

A fundação nasceu de um feliz encontro com o querido Leo Moreira Sá. Ele é um cara que veio de uma geração antes da minha, viveu parte de sua luta como homem trans nos anos 90, quando eu era um adolescente e tinha, no máximo, contato com a Roberta Close e a Rogéria na televisão. Leo também tem experiência com a militância genuína, não essa de internet. Quando nos conhecemos por ocasião de um processo teatral, continuamos próximos e nos tornamos camaradas. Ele foi quem deu a ideia do Coletivo primeiro e eu aceitei de cara. Queríamos um espaço – ainda que virtual, pois estávamos no auge do isolamento pandêmico – para reunir artistas transmasculines e conseguimos. Na época, imaginávamos que não passaríamos de dez e hoje somos mais de setenta. Nosso papel é criar diálogos e ações entre a comunidade trans e com a população cis baseados em trazer visibilidade para nossos corpos e lutar por representatividade e empregabilidade no extenso mercado artístico.

Por ser estudante egresso do curso de Dramaturgia da SP Escola de Teatro, como você está levando esses aprendizados para sua carreira profissional?

A SP Escola de Teatro tem um papel fundamental na minha trajetória. Foi na escola que assumi minha identidade como homem e minha identidade como preto, graças ao contato com debates poderosos e colegas maravilhosos, outros estudantes e artistas que me provocaram, me acolheram e me fizeram romper a bolha de opressão na qual eu estava inserido.

Você também já foi artista docente no mesmo curso que se formou, como foi passar do papel de estudante para o de professor?

É uma experiência indescritível. Isso acabou de acontecer no Núcleo de Dramaturgia da Escola Livre de Teatro de Santo André também, onde volto como orientador depois de passar por lá como aprendiz em 2016. Eu tenho profunda paixão pela docência e voltar como docente aos espaços que me formaram como dramaturgo é muito significativo. É onde me enriqueço na troca com os artistas aprendizes. Entendo como um movimento cíclico e infindável, porque estou ensinando e aprendendo na mesma medida. Sou adepto do que alguns antigos chamavam de pensamento de “open source” (nada a ver com tecnologia e códigos fonte). Mas é uma ideia de que aquilo que aprendemos e no qual vamos nos especializando deve ser transmitido abertamente, passado para outras pessoas de maneira desapegada, sem ficar escondendo o ouro. Sobretudo agora, quando as salas de aula de dramaturgia estão cada vez mais diversas, com mais gente preta, indígena, trans, PCD querendo aprender dramaturgia e controlar a contação de suas narrativas, agora, mais do que nunca, quero passar mesmo tudo que aprendi pra frente, pra que a gente possa ver essa galera entrar no mercado de trabalho e ganhar bem, pagar seu aluguel, conseguir ter comida na mesa e até uma grana pra tirar férias trabalhando com arte, vivendo de contar suas histórias. Quero ajudar a encurtar o caminho pra quem tá chegando, algo que não aconteceu comigo, e acredito que isso só é possível através de uma docência generosa e dedicada.




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