SP Escola de Teatro

"relógios de areia": náusea e vômito no SP Dramaturgias

O profeta missionário Jonas, provável escritor do livro bíblico do Antigo Testamento, que leva seu nome, vira “mula” do tráfico em “relógios de areia”, texto de Maria Shu, que foi lido no SP Dramaturgias de ontem (13), promovido pela SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, na Sede Roosevelt.

 

Nesta edição do projeto, que consiste na realização de leituras dramáticas de peças inéditas de autores contemporâneos, o público teve contato com o texto da ex-aprendiz, que cumpriu os quatro módulos do curso de Dramaturgia na Escola. “relógios de areia” foi publicado recentemente na revista A[L]BERTO – Especial Dramaturgia #1. 

 

Ampulhetas espalhadas pelo chão e luzes azuis formavam o ambiente que abrigou a leitura do poético texto. Nele, o nauseante caminho de Jonas no contrabando de drogas, em um vertiginoso delírio que também visitava o estômago da baleia onde o personagem bíblico passou três dias e três noites. Por vezes “engolidor” de cápsulas, mas sempre engolido pela opressão constante.

 

No elenco, Evaristo Moura, aprendiz de Técnicas de Palco; André Moraes, Douglas Lima e Rhobson Del Kishall, de Direção; Zé Motta, Bruna de Moraes, Fernanda Otaviano, de Atuação, e Marcelo Oriani, de Humor. Talita Rosa, aprendiz de Direção, conduz a leitura. Carlos Ronchi, de Sonoplastia, responde pela operação de som, enquanto Leandra Demarchi, aprendiz de Iluminação, trabalha a luz. A produção ficou a cargo da equipe SP Dramaturgias do 1º Semestre/2013.

 

Ao final da leitura, foi realizado o tradicional bate-papo entre a equipe e o público. “Fiquei muito feliz com resultado e o processo. Chamei a Talita (Rosa) para dirigir porque vi o trabalho dela na leitura do SP Dramaturgias de junho e gostei bastante”, observou Maria Shu.

 

A autora também ressaltou que não tinha “apego” quanto à encenação, e que confiou na capacidade criativa dos aprendizes. Segundo Talita, “toda a montagem foi pensada com a proposta de deixar o texto mais claro, pois é uma obra muito poética, capaz de fazer o espectador viajar”.

 

Maria explicou, ainda, que o disparador para abordar a temática dos “mulas” que trabalham no narcotráfico surgiu em 2010, com uma reportagem exibida na televisão. “A matéria mostrava-os engolindo cápsulas, às vezes em quantidades absurdas. Assistir àquilo me dava muita ânsia e me deixava realmente muito incomodada, então, senti que precisava escrever sobre o tema. Minha primeira ideia era a de criar uma peça aos moldes tradicionais, mas percebi que essa linguagem não daria conta dos meus anseios”, afirmou. A isso, depois, somaram-se a associação com o Jonas bíblico e outros temas, como a exploração e o tempo.

  

Os aprendizes salientaram, ainda, que por mais que o texto não tivesse rubricas, as sugestões gráficas inseridas pela dramaturga no texto colaboraram para direcionar a leitura. “Acho que o texto tem uma força de palavra bem grande, então, adotar essa montagem mais ‘clean’ foi uma boa escolha”, opinou Zé Motta.

 

Joaquim Gama, coordenador pedagógico da Escola, saiu satisfeito com a leitura: “Gostaria de parabenizar, não apenas pela belíssima leitura, mas pela continuidade deste trabalho que vem sendo feito”, disse.

 

A próxima edição do SP Dramaturgias está prevista para o final do mês de setembro.

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