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Ponto | Teatro da Crueldade

Publicado em: 18/10/2011 |

O Teatro da Crueldade é o nome dado à teoria proposta pelo ator, diretor, poeta e teórico francês Antonin Artaud (1896-1948), surgida na década de 20, como uma maneira de fazer uma crítica à cultura do espetáculo e à própria forma que a sociedade ocidental enxergava o mundo. 

 

A origem deste pensamento teve influência dos movimentos dadaísta e surrealista. Em 1932, o primeiro Manifesto do Teatro da Crueldade é publicado, e, em 1938, em seu livro “O Teatro e Seu Duplo”, ganha as feições que seriam disseminadas mundo afora. Mesmo depois de algumas experimentações práticas, foi apenas na década de 60 que artistas dispostos a reinterpretar suas ideias ganharam força. No Brasil, o maior expoente deste formato foi o Teatro Oficina, entre 1967 e 1972.

 

Além de se opor às características do teatro tradicional, o Teatro da Crueldade critica a racionalidade do mundo ocidental. Entre as suas ideias, estava a concepção de um novo teatro e uma nova apreensão do universo, ligada ao nível pré-verbal da psique humana. Para Artaud, o teatro deveria abalar as certezas adotadas pela sociedade. Em uma análise sobre as ideias de Antonin Artaud, Ivam Cabral, diretor executivo da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, diz que é daí que surge o termo “crueldade”, afinal, ao se libertar das certezas, só resta a insegurança e o medo.

 

“O processo de criação aproxima-se sempre da angústia, que é um sentimento ligado ao desconhecido. Tem-se medo de algo; angustia-se de uma sensação apenas. É a cultura das sensações (do imaginário, do sensível), não da cultura erudita. Mas um teatro que vai do sensorial ao intuitivo. Não é um teatro físico, apenas.”

 

Segundo escritos de Artaud, o teatro não deveria ser entendido como entretenimento. A caracterização psicológica das personagens, a sobrevalorização do enredo e o predomínio da dramaturgia sobre a encenação eram outros pontos combatidos por ele.

 

Ainda mais fundo, o autor propunha uma interação entre o palco e o público e entre atores e espectadores. A encenação deveria ocupar todo o espaço: “um teatro que não se confina num palco, que pode se metamorfosear em qualquer situação”, como coloca Ivam Cabral. Por fim, em Artaud o teatro ganha um caráter ritualístico, que seria capaz de curar a angústia e reintegrar a totalidade física e espiritual do homem. 

 

Grande parte destas ideias reflete a própria trajetória pessoal de Artaud. Frequentemente visto como louco, foi internado em vários manicômios; sofria com intensas dores de cabeça; era viciado em opiáceos; e desenvolveu um câncer no final da vida, falecendo aos 51 anos.

 

Desde sua partida, alguns artistas e grupos tentaram reproduzir seus conceitos. Peter Brook, na década de 60, comandando a Royal Shakespeare Company, explora a intensidade de jogos físicos e a exteriorização da angústia, como em “Marat-Sade”, do dramaturgo alemão Peter Weiss.

 

Outra companhia que se aprofundou nos estudos de Artaud foi o Living Theatre. Dotado de uma ideologia anarquista e com o objetivo de transformar a sociedade, propunha a unificação entre teatro e vida. Embora estivessem experimentando essas tendências desde os anos 1950, é na década seguinte que seus trabalhos ganham mais força. “Frankenstein” e “Paradise Now” são suas encenações mais famosas.

 

O Teatro Oficina, que teria contato com o Living Theatre e trabalharia com ele no Brasil, também colocou em prática os preceitos do Teatro da Crueldade. “O Rei da Vela”, “Roda Viva” e “Na Selva das Cidades” demonstram toda a agressividade e radicalização do grupo.

 

Já nos anos 1970, elementos do Teatro da Crueldade se tornam referência para diversas manifestações teatrais. O Teatro da Vertigem, por exemplo, explora alguns deles, como a experiência corpórea dos atores, a utilização de espaços teatrais não convencionais e a integração especial entre palco e plateia.

 

 

Texto: Felipe Del

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