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Ponto| A Profissionalização do Teatro Brasileiro

Publicado em: 22/03/2011 |

Não há registros de trabalhos cênicos no Brasil antes do descobrimento. Esses vieram nas caravelas lusitanas sob forte influência católica. Tanto é que a primeira peça escrita nas terras em que tudo que se planta nasce foi “O Auto da Pregação Universal”, do padre jesuíta José de Anchieta, em 1567. Porém, a profissionalização do teatro nacional demoraria alguns séculos para ocorrer.
 

Nos duzentos anos que se passaram, após a peça do religioso, as atividades cênicas ficaram restritas às pessoas ligadas à Igreja, e eram, quase sempre, faladas em tupi-guarani, já que os índios não tinham leitura, nem escrita e os colonos eram, em sua maioria, analfabetos.
 

A arte cênica brasileira, que nasceu de maneira engajada e panfletária, sofreu uma mudança com a chegada de Dom João VI, que percebeu a iminente necessidade da construção de um teatro. Todavia, a sociedade, repleta de preconceitos, não permitia que mulheres subissem ao palco, obrigando, assim, que papéis femininos fossem interpretados por homens.
 

Um bloqueio à evolução teatral do País, o preconceito, não permitia que a arte da interpretação se tornasse algo rentável e profissional na colônia portuguesa.
 

Somente em 1833, em associação com a bailarina e atriz Estela Sezefreda, João Caetano funda uma companhia de teatro e, por essa atitude, até hoje, é considerado o primeiro teórico da arte dramática brasileira, responsável pela profissionalização do teatro nas terras do pau-brasil. A companhia de João Caetano rompe com a tradição predominante, totalmente influenciada pela dramaturgia portuguesa.
 

Considerado o primeiro ator nacional, ele introduziu com a montagem de espetáculos como “Antônio José” e “O Poeta da Inquisição”, de Gonçalves de Magalhães, temas brasileiros no teatro desenvolvido no país à época. Os espetáculos continham somente atores tupiniquins, prática até então inovadora. Como ator, especializou-se em papéis dramáticos e encenou peças de dramaturgos como Willian Shakeaspeare e Alexandre Dumas.
 

Nos livros “Reflexões Dramáticas” e “Lições Dramáticas”, João Caetano apresenta seu ideário estético do teatro, a substituição dos vícios declamatórios do estilo lusitano por um estilo de representar mais simples e verdadeiro.
 

Nascido em Itaboraí, no ano em que Dom João VI chegou ao País, fugindo de Napoleão Bonaparte, o ator, preocupado com a disseminação e com a qualidade das artes no Brasil, organizou, tempos depois, no Rio de Janeiro, uma escola de arte dramática, em que o ensino era gratuito. Além disso, promoveu a criação de um júri dramático para premiar a produção nacional.
 

A partir de então, o teatro brasileiro iniciou uma nova fase. Influenciada por Caetano, uma safra de atores, entre eles Procópio Ferreira e Leopolfo Fróes, seria formada pela Escola Dramática Municipal do Rio de Janeiro.
 

Autor de mais de 30 peças, o ator e encenador, falecido em 1863, deixou um legado imenso para o teatro brasileiro. Visionário que sempre foi, pensou à frente dos demais e foi pioneiro ao inovar na estética e nas formas de se fazer e pensar a arte de atuar no Brasil. Hoje, João Caetano é o nome de teatros no Rio de Janeiro e em São Paulo.
 

Foto: Litografia de S. A. Sisson, 1856

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