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Poeta Queiroz Filho lança ‘Opúsculo abissal’, seu primeiro livro solo de poesia

Publicado em: 21/08/2014 |

A poesia como vocação, não como trabalho, a incansável companhia dos sonetos e a “falta de um estilo próprio” caracterizam a trajetória do “lírico evadido”, como se define o poeta Queiroz Filho, que acaba de reunir parte importante de suas criações em um único livro de poemas, “Opúsculo abissal” (All Print Editora,128 págs, R$20). A obra será lançada neste domingo (24), durante a 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no Anhembi.

 

Este é o primeiro livro solo do autor – ele já participou de algumas antologias –, que também trabalha como auxiliar de operação na SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. São mais de 100 poemas de autoria própria que transitam entre universos, temas e estilos diferentes. 

 

A obra também marca, de certa forma, o amadurecimento artístico do poeta. Há alguns anos, ele passou a se interessar especialmente pelo poeta paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914). “Ele publicou um único livro de poemas, chamado ‘Eu’, mas escrevia com uma profundidade e uma melancolia que me atraíram muito”, revela, observando que demorou para conseguir captar a essência dos versos repletos de ciência e simbolismo.

 

Até algum tempo atrás, o autor confessa, tinha uma visão “puritana” da poesia – não conseguia encontrar sentido em inserir palavrões e coisas do gênero em seus poemas. O contato com a obra do poeta Glauco Mattoso, porém, fez ruir algumas das certezas de Queiroz Filho. Absorveu-a em boas doses. “Não que seja fundamental ser impactante, mas acho que é importante, até porque também gosto de tocar em temas cheios de tabu, como estupro e outras coisas que não costumam ser questionadas”, comenta.

 

Outra grande referência de sua poesia é Fernando Pessoa, a quem ele também “homenageia” com semi-heterônimos como Laura Alves Coimbra e Lúcia Monteiro. A primeira expressa sua alma doce e leve por meio de haicais e sonetos, enquanto a segunda é erótica e vem em versos livres.

 

Adotar essas personalidades fictícias causou grande receio no autor: “No início fiquei com medo de acharem uma atitude pretensiosa, como se eu estivesse querendo me igualar ao Pessoa, mas não é nada disso. Encaro como uma homenagem às mulheres, especialmente à mulher de hoje, aguerrida, independente.”

 

Natural de Tacaratu, Pernambuco, José Nilson de Queiroz reside em São Paulo desde os dois anos de idade e faz poesia desde os 20. Hoje com 34, reconhece que se não fosse a Pauliceia, nunca teria seguido esse caminho. Foi na periferia da cidade (Zona Leste) que conheceu a arte e teve a oportunidade de estudá-la em cursos e trocar experiências com outros colegas.

 

Durante anos, sua ferramenta de trabalho foi uma máquina de escrever antiga. No entanto, seus hábitos notívagos dificultavam o manuseio do barulhento instrumento, que perturbava o sono da família. Logo, o computador apareceu como ótima opção e conquistou a sua confiança.

 

Desde os primeiros versos, já criou mais de 300 poemas. Destes, a absoluta maioria é composta por sonetos. “De todas as formas fixas, a mais perfeita é o soneto”, opina. Uma autoanálise revela um sujeito previsível, pragmático e que não gosta de mudanças. Tais traços manifestam-se claramente na adoção da estrutura preferida. “O soneto dá a moldura para que eu coloque o que eu quiser ali dentro”, sintetiza.

 

O zelo pela musicalidade também permeia a obra do poeta e é parceira em sua missão de encontrar beleza na feiúra e também na própria beleza. A grande função de sua arte? “Tento tirar as máscaras da sociedade e as minhas”.

 

Serviço

Lançamento: livro “Opúsculo abissal”, de Queiroz Filho

Quando: Domingo (24), das 8h às 13h

Onde: Pavilhão de Exposições do Anhembi (Estande 370)

Av. Olavo Fontoura, 1209 – Santana

Preço: R$ 20 (aqui)

 

Texto: Felipe Del