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Peça escrita por quatro dramaturgos lusófonos estreia em Cabo Verde

Publicado em: 26/02/2014 |

Quatro dramaturgos lusófonos – cada um de um país – estão reunidos em um projeto singular e ousado: a criação de uma peça teatral escrita a oito mãos, feita especialmente para o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo – o grupo mais importante de Cabo Verde –, a convite de seu diretor, João Branco.

 

Os autores que toparam o desafio foram Rui Zink (Portugal), José Mena Abrantes (Angola), Abraão Vicente (Cabo Verde) e Ivam Cabral, diretor executivo da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.

 

O resultado é “Quotidiamo, esta não é uma história de amor”, espetáculo que estreia no dia 20 de março, na sede do grupo cabo-verdiano, em Mindelo, na ilha de São Vicente, em Cabo Verde, marcando a 50ª produção da companhia.

 

Da esq. p/ a dir.: Ivam, Rui, Abraão e Jose Mena

 

A peça conta a história de um homem e uma mulher que vivem em uma ilha. Os dois se encontram quase por acaso, quando ele a procura em busca de um empréstimo financeiro. O processo criativo da obra seguiu a seguinte lógica colaborativa: Rui Zink deu as coordenadas iniciais que foram sequenciadas por José Mena Abrantes e Abraão Vicente. Ivam Cabral, então, finalizou. Esse percurso se deu sem qualquer encontro ou conversa entre eles, que também não sabiam qual havia sido responsável por determinada parte. 

 

Segundo João Branco, diretor da montagem, “a principal ideia foi desenvolver uma nova dramaturgia multinacional e pluricultural, que é acompanhada pela constituição da equipe artística”. A dupla que forma o elenco é composta por um cabo-verdiano (Relato Lopes) e uma brasileira (Janaina Alves), e a música original é de autoria do português Rui Rebelo.

 

O desafio dos artistas, segundo Branco, é fazer um “teatro sem fronteiras”, que valoriza a riqueza da língua portuguesa e as suas especificidades. O grupo pretende circular com a peça pelos quatro países envolvidos. 

 

Trabalho a oito mãos

Além de carregar um ineditismo por conta de sua arrojada proposta, que “só autores malucos aceitariam”, como Ivam Cabral brinca, o resultado final da peça conseguiu, na opinião de todos os autores envolvidos, alcançar uma unidade que é de extrema valia.

 

Essa conquista, segundo Ivam, veio de uma busca por analisar o trabalho como um todo somada a um processo instintivo. “Como tive liberdade para manusear o material, a primeira coisa que me veio à mente foi realizar um trabalho totalmente autoral. Então, criei uma fantasia sem imaginar o que eles estavam escrevendo e dei um final para ela. Incrivelmente, quando recebi o texto e resolvi mergulhar nas propostas deles, senti muita dificuldade, mas, ao terminar, notei que o resultado era perfeitamente compatível com o que eu havia pensado antes”, revela ele, que também sugeriu o subtítulo “esta não é uma história de amor”.

 

Criador do ponto de partida, Rui destaca que dar sentido à pluralidade das vozes foi o grande mérito dos artistas: “Eu tive o trabalho mais fácil, porque o João me deu a honra de começar o jogo. Gosto muito do resultado. Se houver alteração, como penso que será feita, deve ser nos pequenos modos de usar a língua. Aqui o cânone deve ser o de Cabo Verde. Sem ‘respeito’ pelo que cada um escreveu. A coerência – ficar tudo numa só voz – é o essencial”.

 

Para Abraão, a principal provocação foi o fato de “o casal estar completamente encurralado nas suas vidas, dilemas e realidades”, o que torna necessária a leitura das entrelinhas e obriga o público a “dialogar com momentos tão nossos quanto universais”.

 

Com final “aberto e surpreendente”, de acordo com Ivam, “Quotidiamo, esta não é uma história de amor” é a formalização de um encontro artístico entre pessoas de quatro países e três continentes, mas contaminados por culturas tão distintas entre si quanto eles próprios. A ilha fictícia, enfim, aguarda ansiosamente pela chegada dos espectadores.

 

Saiba mais informações no site do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo e na página do Facebook.

 

Os autores

Rui Zink é um dos nomes mais importantes da literatura de Portugal. Doutor em Literatura e professor da Universidade Nova de Lisboa, é autor dos romances “Hotel Lusitano” e “Dádiva Divina”, dentre outros.

 

José Mena Abrantes é jornalista e dramaturgo. Membro da União dos Escritores Angolanos, é Secretário de Estado para Assuntos de Comunicação Institucional e Imprensa do Presidente da República de Angola.

 

Abraão Vicente é artista plástico, cronista e escritor. Autor do livro de crônicas “Trampolim “, é colaborador de jornais em Cabo Verde e Portugal. Em paralelo à sua carreira artística, é deputado pelo MPD, em Cabo Verde.

 

Ivam Cabral, ator e dramaturgo e cofundador do grupo de Teatro Os Satyros, recebeu os mais importantes prêmios do teatro brasileiro. Diretor da SP Escola de Teatro, também escreve para teatro, cinema e TV.

 

 

Texto: Felipe Del

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