SP Escola de Teatro

Oficina Olhares: “As cores da foto do menino no poste estão desaparecendo”, por Milena Siqueira

Por Milena Siqueira, participante da oficina Olhares, especial para SP Escola de Teatro

Todo mundo tem um labirinto, órgão responsável pela nossa audição e também pelo nosso equilíbrio, localizado no ouvido interno, cavidade dentro do crânio. Contudo, nosso labirinto particular, esse, aqui tratado como metáfora, uma imagem-síntese que representa confusão, solidão e caos. Todos esses sentimentos são tratados na peça “O Labirinto de Sol”, de Danielle Lima.

A atriz, em um tom de depoimento, narra traumas da infância que desencadearam uma série de doenças físicas e mentais. A história conta sobre a violência vivida desde pequena nas mãos de uma mãe que a cortava e de um pai que a surrava. Além dos abusos físicos, também havia uma pressão mental para que seu corpo fosse magro – tudo isso levou a personagem apresentada direto para a anorexia. “Mas eu não quero morrer!”

 Outras imagens aparecem na função de compor a cena e de nos passar a sensação da angústia vivida. A cama de gato, sempre presente, me remete à perdição, metaforizando nossos becos escuros sem saída. A cabra cega, ainda nessa mesma chave, parece refletir nossa vulnerabilidade e solidão. As cores que me chegaram pelo vídeo eram radicalmente saturadas – não sei se foi proposital, mas imprimem um tom melodramático, emocionado demais. A luz também interfere em como vemos o corpo nu da atriz, ajudando a criar contrastes e sombras e delineando mais as formas.

A última cena, ponto alto da peça, onde a atriz encontra outra qualidade de interpretação, menos melodramática e mais performática, nos torna cúmplices da sua rebeldia. Não sabemos se ela se liberta ou se é mais uma crise de ansiedade. Dançando nua, ela come de tudo, sensualiza, se sente feliz (?).

* Milena Siqueira é louca medicada, atriz obcecada, pregadora do Teatro, começou a estudar artes cênicas em 1997 em Jacareí, sua cidade natal; teve mestres e diretores que provocaram as experiências mais preciosas. Se sente rica por isso. Quer fazer da vida uma obra de arte.

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