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“O Brasil quer ser tratado de igual para igual”

Publicado em: 02/12/2013 |

Empresária e sócia-fundadora do Grupo Máquina, uma das agências líderes em comunicação corporativa do País, Maristela Mafei também faz parte do Conselho Fiscal da Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap), instituição que gere a SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.

 

Há algumas semanas, Maristela foi destaque no diário espanhol El País, em reportagem publicada no dia 16 de outubro. Na matéria, ela afirma que “Brasil quer ser tratado de igual para igual” e defende reforma política. Temas como desafios e oportunidades de desenvolvimento do Brasil, diante do cenário nacional de manifestações populares, também são abordados. Confira abaixo, na íntegra, em tradução feita por Cibele Custódio, secretária da diretoria executiva na Escola:

 

“O Brasil quer ser tratado de igual para igual”

 

Ordem e Progresso é o lema que aparece na bandeira do Brasil, em que não obstante falta um dos elementos chaves que explicam o desapego definitivo do país sulamericano: paixão.

 

É o que mostra Maristela Mafei (nascida em 1954, Ribeirão Preto – São Paulo) quando fala de sua trajetória profissional e dos protestos da classe média, especialmente da juventude, que leva meses lutando nas ruas do Brasil exigindo uma reforma política.

 

A cafeteria do hotel onde acontece o encontro com esse jornal esté com todas as mesas ocupadas e em um determinado momento ela é a única mulher na sala. Um bom exemplo do que aconteceu há 18 anos, quando esta jornalista, descendente de italianos, decidiu abandonar a redação de um jornal e abrir a sua própria empresa de comunicação. “Tinha uma secretária e um mensageiro. Éramos três”, recorda. Eram três e um nome que foi uma declaração de intenções: Máquina de Notícias.

 

Quase quatro décadas depois, Máquina é a maior empresa de relações públicas do Brasil e uma das mais importantes do mundo. Os três foram o embrião de uma empresa com mais de 300 filiais em todo o mundo. “O mensageiro é agora chefe e a secretaria mudou de cidade”. O segredo? “Meritocracia, resultados, não depender nada do Governo e saber a quem contratar”, explica.

 

Mafei diz imparável o crescimento do Brasil nestes anos, mas não faz de uma maneira pouco exigente, e sim destacando os desafios que o país enfrentam e as oportunidades abertas para ele. “Sabe o que o Brasil realmente exporta?” pergunta com um sorriso. “Gestão empresarial”, acrescenta para ilustrar a potencia econômica de seu país. E aqui, como demonstração de que ser a potencia se aprende rápido, apresenta um ligeiro aviso.

 

“Ainda se chega ao Brasil da Europa com uma visão preconcebida de como são as coisas. E frequentemente esta visão se choca com a realidade de que o Brasil é um país que quer ser tratado de igual para igual”.

 

Mas igualdade é exatamente o que querem milhões de brasileiros há meses. “Muitos dos que protestam tinham apenas oito anos de idade quando Lula (ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva) chegou ao poder. Esta geração não tem vivido no Brasil da pobreza absoluta, que conseguiu incorporar 30 milhões de pobres à classe média. O que acontece depois? Quando terminam seus estudos e ganham muito pouco, têm que lutar com sistemas deficientes de transporte e saúde e, acima de tudo, negam qualquer responsabilidade política”.

 

Para Mafei, um país onde existem mais aparelhos celulares e tablets do que habitantes (e esses são 190 milhões) necessita de uma reforma política com urgência. “É um momento histórico que não é comparável ao que aconteceu em Puerta del Sol e muito menos a primavera árabe”, salienta olhando fixamente seu interlocutor e reforçando suas palavras com as mãos.

 

Para Mafei o progresso de seu país está fora de qualquer dúvida. E os jovens garantem precisamente. “Meus filhos (tem dois que estão próximos dos vinte anos de idade) querem devolver ao mundo o que o mundo lhes deu”.