SP Escola de Teatro

Marco Nanini por Guilherme Weber

Havíamos acabado de estrear “Os Solitários”, espetáculo composto de dois textos de Nicky Silver, no Rio de Janeiro. No primeiro ato, Marco Nanini deliciava a plateia como uma menina de quinze anos, “grávida, amarga e disposta a se vingar.” Sua empatia com esta garota era de alta voltagem e de profunda compaixão, a mesma receita de entrega que ele usa para todas as suas personagens. A risada da plateia não falhava e vinha em ondas, como ele me ensinou a observar. “A gargalhada tem a mesma fluência de uma onda, há que atacá-la, antes que quebre, mas nunca antes disto”, me disse na cochia de um teatro uma vez. 

 

Sua Emma era uma criação observada com risos e muita piedade. Como disse Bernard Shaw, na grande comédia você ri com lágrimas nos olhos. Tarefa reservada para os mestres como Nanini e para o deleite de seus seguidores. Após, a estreia carioca, na casa de Nanini, abrimos o jornal que trazia a crítica que banhava de elogios sua composição, mas ele só tinha olhos para a foto que o mostrava vestido de noiva. Chocado ele falou: “Meu Deus, mas eu sou um senhor!” Seu choque em não ver estampado no jornal a imagem da menina que ele trazia em sua cabeça foi um dos momentos mais profundos que presenciei da relação de um ator com sua personagem.

 

A dor do ator ao se sentir traído pela realidade, enganado pela vida fora do palco, diminuído pela crueza da lente fotográfica foi o mais lindo exemplo de amor ao teatro que eu já presenciei. E a garota que ele criou foi uma de minhas melhores amigas pelo tempo em que ela viveu, guardada para sempre na minha memória. No meu coração e no do público que a amou, ela tinha o rosto exato que Nanini imaginou.

 

 

Veja o verbete de Guilherme Weber e Marco Nanini na Teatropédia.

 

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