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François Kahn Entre Nós

Publicado em: 08/08/2012 |

Os óculos de aros finos e o forte sotaque francês não deixam dúvidas. Está-se mesmo diante de François Kahn, um dos maiores nomes do teatro contemporâneo. Em seu vasto currículo, está a atuação no Teatro Laboratório Jerzy Grotowski, em Wroclaw, Polônia (de 1975 a 1986) e sua participação como ator e dramaturgo em espetáculos dirigidos por Roberto Bacci, no Centro de Experimentação Teatral de Pontedera, na Itália. Para Ivam Cabral, diretor executivo da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, “uma das principais qualidades do trabalho de Kahn está em conseguir harmonizar, com perfeição, o trabalho físico com o texto”.

Pois não é que ele está entre nós? Hoje (8), pela manhã, ele deu início à primeira de uma série de aulas para os aprendizes de Atuação do Módulo Amarelo, na sede Roosevelt da SP Escola de Teatro. Depois de uma apresentação feita pelo coordenador do curso, Francisco Medeiros, Kahn abriu as atividades, que seguiriam até as 13h, continuando em outros dias.

Muito curioso, o artista pediu para que os aprendizes formassem um círculo e se apresentassem. Não faltaram risos diante de certa dificuldade do francês em pronunciar os nomes de alguns deles. “Ma-ri-a E-u-gê-ni-a, Ra-íl-son”, ele repetia, tentando memorizar as identidades. Depois, coordenou a formação de dois grupos: meninos e meninas. Cada aprendiz, então, foi orientado a escolher uma personagem, que deveria ser uma criança (um primo, um irmão, etc), de até 10 anos de idade. Todos deveriam pensar nos detalhes da personalidade da personagem, seu nome, idade e, nas próximas aulas, ter um brinquedo e estar vestido com pijama ou camisola.





François Kahn, ao lado de Francisco Medeiros (de vermelho), é apresentado aos aprendizes de Atuação, na manhã desta quarta-feira (8)  


A partir daí, Kahn apresentou o texto a ser trabalhado nas aulas: “Crianças na Rua Principal”, de Franz Kafka, com tradução para o português de Modesto Carone. A obra seria distribuída entre os aprendizes, que deveriam memorizá-la em sua íntegra. Depois, o texto foi dividido em 12 partes, que seriam sorteadas para serem interpretadas pelos aprendizes. Enfim, muito trabalho à vista!

Kahn na SP Escola de Teatro
Além de ministrar essas aulas, François Kahn também participará de uma Mesa de Discussão com mediação da professora, pesquisadora e diretora teatral Maria Thais, na próxima segunda-feira (13), às 19h, na Sede Roosevelt da Instituição. O tema será “O Ator Narrador e o Teatro de Câmara”. O encontro é aberto ao público.

E, para a maioria, que nunca teve a oportunidade de ver François Khan no palco, a boa-nova é que o ator vai apresentar o espetáculo “Moloch”, dias 27 de agosto e 3 de setembro, na Sede Roosevelt da SP Escola de Teatro, a partir das 20h, com entrada franca. A peça foi produzida a partir de notas sobre o julgamento em que Allen Ginsberg (poeta americano da geração beat) foi testemunha de defesa, num processo político dos Estados Unidos de 1969. Durante os dois dias de julgamento, o procurador o atacou de modo muito violento, para mostrá-lo sob uma ótica ruim.

Ginsberg foi atacado em quatro direções: na religião, porque ele se dizia budista, o que na época era escandaloso para os americanos protestantes; nas drogas, porque Ginsberg defendia o uso da maconha e havia processos contra ele por uso da erva proibida; na homossexualidade, porque ele se declarava homossexual, o que era um escândalo absoluto, e na poesia, pois ele defendia sua visão da poesia como um ato natural do ser humano que, como tal, deveria ser respeitado. O procurador queria provocar Ginsberg e pediu para que ele lesse alguns poemas considerados escandalosos. Ele aceitou lê-los, mas deu uma explicação e um sentido a todos.  “O que Ginsberg disse é sempre verdade e atual. A sociedade é um pouco mais permissiva, mas no fundo as coisas são as mesmas”, diz Kahn.

Aos jovens atores, o francês deixa um precioso conselho: “O desafio é muito importante na formação de um ator, mas a coisa do medo, não. O desafio é fundamental. É preciso que haja um desafio, senão não tem valor, não tem superação de dificuldades”.



Texto: Majô Levenstein

 

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