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EXPERIMENTO: CRIAR SOB DETERMINADAS CONDIÇÕES

Publicado em: 20/06/2014 |

* por Marici Salomão, especial para o portal da SP Escola de Teatro

 

Depois de ler a última coluna de Ivam Cabral, diretor executivo da SP ESCOLA DE TEATRO, fiquei muito estimulada a lembrar das origens da nossa Escola, e dos pilares que, desde o início, norteiam o aprendizado. Ivam Cabral ressalta que mesmo antes de “fincarmos as fundações da SP Escola de Teatro, sabíamos, ainda que instintivamente, que nossa missão seria instigar os aprendizes a descobrir as artes do palco”. E foi na experimentação, prossegue Ivam, que encontramos um dos grandes eixos que definem e norteiam a estrutura da Escola.


Os Experimentos ocorrem em três momentos de cada Módulo, num total de quatro: 1. CONFLITO E PERSONAGEM, 2. NARRATIVIDADE, 3. PERFORMATIVIDADE e 4. EIXO LIVRE. Cada módulo tem um semestre, nos cursos da manhã e tarde, o que significa que a cada ano temos 12 Experimentos. Cada um é formado por oito núcleos com representantes dos OITO CURSOS DA SP: Atuação, Cenografia, Direção, Dramaturgia, Humor, Iluminação, Sonoplastia e Técnicas de Palco. Cerca de 24 (três de cada área) participantes colocam em AÇÃO o FAZER para que sob coordenadas teóricas e artísticas possam CRIAR pequenas peças. São vistas e analisadas pelos coordenadores, formadores, convidados artistas, jornalistas e teóricos. É, sim, repetindo palavras de Ivam, o “momento de maior efervescência no âmbito pedagógico”.

 

Tive a curiosidade de buscar uma definição para EXPERIMENTO, e gostei de uma das primeiras listadas no Google: “Experimento (de experiência) significa observar ou fazer alguma coisa sob determinada ‘condição’, o que resultará em um resultado ou estado final de acontecimentos que não são previsíveis. Os experimentos (comumente realizados no campo das ciências) não são precisamente repetíveis, mesmo que realizados sob condições supostamente idênticas e previamente estabelecidas. Os experimentos envolvem eventualidade. E como não podem ser preditos (por serem aleatórios), resultam em um conjunto de resultados denominado ‘espaço amostral’ onde estará envolvido o conhecimento da probabilidade, que indicará a frequência – maior ou menor – em que o conjunto de resultados ocorre”.

 

Concordo com a máxima de que os Experimentos não são repetíveis: envolvem eventualidade. Como não podem ser preditos, sabemos de antemão que não nos interessa julgar os resultados finais (como fazem os críticos), mas compreender, questionar e fomentar o caminho percorrido por cada núcleo, ou seja, averiguar o processo – o que envolve um olhar para a efetividade do desejo de agir, bem como para os modos de trabalho entre as áreas e a compreensão de coordenadas oferecidas pela coordenação pedagógica: EIXO (LINGUAGEM), OPERADOR, MATERIAL E PEDAGOGO. A partir de acontecimentos tão variados e únicos, tende-se a ampliar o estado de consciência do artista, vital para sua trajetória artística.

 

Os EXPERIMENTOS NA SP são cada vez mais aprimorados, começando pelas escolhas das quatro coordenadas que deverão estear os caminhos criativos. O papel do formador na sala de aula também é fundamental, pois orienta pelas melhores escolhas e a melhor ação nas salas do EXPERIMENTO. No caso da Dramaturgia, por exemplo, percebemos que ganharíamos bastante com uma divisão de tarefas entre DRAMATURGO E DRAMATURGISTAS. E o DRAMATURGISMO, ofício que estamos ajudando a sistematizar na Escola, em parceria com renomados profissionais na área, nacionais e internacionais, é fundamental no trânsito entre a DRAMATURGIA e TODAS AS INSTÂNCIAS CRIATIVAS.

 

O dramaturgista (ou dramaturg, em sua acepção alemã, original) é um intelectual que aconselha, adapta, critica e contextualiza o TEXTO TEATRAL quando ele é montado. Trabalha junto com o diretor, mas também dá suporte às relações de trabalho e criação das áreas. Quando começamos a trabalhar com aprendizes DRAMATURGOS e aprendizes DRAMATURGISTAS em cada Núcleo (com troca de papéis a cada EXPERIMENTO), percebemos os ganhos visíveis para a escritura e as relações de trabalho. Afinal, escrever uma pequena peça a seis mãos não é tarefa simples, muito menos saudável, se pensarmos do ponto de vista de uma criação mais singular.

 

Os EXPERIMENTOS da SP evocam os modos de criação horizontais, em que o texto não necessariamente tem precedência sobre o ato criativo e todas as instâncias da criação podem, desde o início do processo, oferecer contribuições ao fazer cênico. Como bem sublinha Cabral, “essa estrutura nos coloca em um espaço único entre as escolas de teatro, uma das singularidades que mais chamam a atenção de profissionais e instituições de todo o mundo”.